A Audaciosa Jornada do Tenente De Lamare
No dia 10 de março de 1917, o Brasil testemunhou um feito histórico na aviação. O Tenente Virgínio de Lamare, da Aviação Naval, realizou o primeiro voo noturno do país, desafiando os limites da tecnologia e da navegação aérea da época. Pilotando um hidroavião Curtiss sobre a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, ele provou que o céu não era mais uma barreira quando a noite caía.
A coragem e habilidade do aviador foram essenciais para essa missão ousada, em um período em que a aviação ainda engatinhava e os recursos para voos noturnos eram escassos. Seu feito abriu caminho para o desenvolvimento da aviação militar e civil no Brasil, consolidando a importância da Aviação Naval na história do país.
Em 1° de março de 1915, durante a Campanha do Contestado, o 1° Tenente Ricardo Kirk, pioneiro da aviação militar brasileira, perdeu a vida em um acidente aéreo enquanto realizava uma missão de reconhecimento sobre o reduto de Santa Maria, em Santa Catarina. Este evento marcou a primeira utilização de aeronaves em operações militares no
Brasil.
Nascido em 23 de março de 1874, em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, Kirk declarou desde cedo interesse pela aviação. Em 1912, obteve o brevê de piloto-aviador na École d'Aviation d'Etampes, na França, tornando-se o primeiro aviador oficial do Exército Brasileiro. Ao retornar ao país, participou da fundação do Aeroclube do Brasil, onde atuou como Diretor Técnico.
Durante a Campanha do Contestado, conflito que ocorreu entre 1912 e 1916 na região disputada pelos estados do Paraná e Santa Catarina, Kirk foi convocado para integrar as operações militares. Em 1° de março de 1915, durante uma missão de reconhecimento aéreo, seu avião sofreu uma pane mecânica e caiu nas proximidades do atual município de General Carneiro, Paraná, resultando em sua morte.
A morte de Ricardo Kirk não apenas evidenciou os riscos inerentes às missões aéreas pioneiras, mas também destacou a coragem e o espírito inovador dos primeiros aviadores militares do Brasil. Sua dedicação e sacrifício abriram caminho para o desenvolvimento da aviação militar no país, consolidando seu legado como patrono da Aviação do Exército Brasileiro.
Em 26 de fevereiro de 2010, o Comando da Aeronáutica deu um passo significativo na preservação e promoção de sua rica história e cultura ao instituir o Sistema de Patrimônio Histórico e Cultural (SISCULT) por meio da Portaria nº 119/GC3. Este sistema, com o Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica (INCAER) como órgão central, tem como objetivo centralizar e coordenar as atividades relacionadas ao patrimônio histórico e cultural da Força Aérea Brasileira.
O INCAER, fundado em 27 de junho de 1986, é uma organização subordinada diretamente ao Comandante da Aeronáutica, em conformidade com o Decreto nº 92.858, de 1986. O instituto dedica-se à pesquisa, preservação e divulgação da memória da A aviação brasileira é responsável por manter e promover o Museu Aeroespacial, que abriga uma vasta coleção de artefatos históricos relacionados à aviação.
A criação do SISCULT representa uma estratégia para integrar e fortalecer as iniciativas culturais dentro da Força Aérea, alinhando-se ao Sistema Nacional de Cultura e ampliando o alcance das atividades culturais da instituição. As atividades do SISCULT abrangem áreas como patrimônio histórico material e imaterial, museologia e heráldica, atualizações preservar e divulgar a história e a cultura aeronáutica brasileira.
Essa iniciativa reflete o compromisso da Força Aérea Brasileira em valorizar e compartilhar sua história, promovendo o conhecimento e o orgulho nacional em relação à aviação e às contribuições do Brasil para o campo aeronáutico.
Atividade de Inspeção em Voo completa 66 anos no Brasil
Garantir a segurança das aeronaves em todas as fases de voo. É a partir desta premissa que os mais de 200 homens e mulheres do Grupo Especial de Inspeção em Voo (GEIV), a unidade aérea do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), atuam diariamente ao aferir todos os sistemas de auxílio à navegação aérea, bem como os procedimentos de navegação aérea em uso no espaço aéreo brasileiro.
O dia 21 de fevereiro marca, desde 1959, a primeira inspeção em voo realizada no Brasil, com tripulação e aeronave nacionais. São 66 anos deste feito histórico e, ano após ano, acompanhando os avanços tecnológicos, o GEIV conduz com profissionalismo e alta qualidade as diversas missões nacionais e internacionais.
Somente em 2024, o Grupo realizou cerca de 1.400 horas de voos de inspeção e foi responsável pela aferição de 970 auxílios à navegação aérea. “Somos reconhecidos por executar uma das melhores e mais criteriosas inspeções em voo, sempre atendendo aos padrões estabelecidos pela Organização da Aviação Civil Internacional, o que credencia o Brasil em uma posição de destaque mundial no cenário da navegação aérea”, destacou o Diretor-Geral do DECEA, Tenente-Brigadeiro do Ar Maurício Augusto Silveira de Medeiros.
Esta atividade essencial para a segurança dos aeroportos do Brasil é desempenhada pela equipe de inspeção do GEIV, composta por seis militares altamente treinados: um piloto-inspetor (PI), um piloto operacional de inspeção em voo (1P), um operador de sistema de inspeção em voo (OSIV), dois operadores de sistema de posicionamento de aeronave (OSPA) e um mecânico de voo (MEC). Juntos, eles inspecionam a execução de perfis de voo e a qualidade dos sinais de equipamentos de solo, além de verificarem os procedimentos em voo, fazendo análises, medições e, quando necessário, correções para que estes atendam aos parâmetros previstos.
Atualmente, a frota do GEIV é composta por oito aeronaves, sendo quatro do modelo Hawker 800 XP e quatro Legacy 500, denominadas na Força Aérea Brasileira (FAB) como IU-93-M e IU-50, respectivamente. As aeronaves-laboratório são equipadas com o sistema de inspeção em voo embarcado UNIFIS 3000, que avalia os sinais eletrônicos dos auxílios à navegação aérea. Os consoles instalados nesses aviões são frequentemente calibrados para que possam avaliar, com alto grau de precisão, os sinais emitidos pelos instrumentos de solo.
“Os voos de inspeção possuem algumas características específicas e demandam intenso treinamento e alta habilidade da tripulação envolvida. São realizados longos sobrevoos na mesma localidade, assim como a execução de manobras e passagens baixas sobre as pistas dos aeródromos. É através deste trabalho incansável que garantimos a precisão, a confiabilidade e a segurança para que todos possam voar”, explicou o Comandante do GEIV, Major Aviador Rodrigo Pereira Drumond.
História
A atividade de inspeção em voo no Brasil teve seu início em 1956, após a assinatura do projeto de Controle de Tráfego Aéreo (CONTRAF). Já no ano de 1958, formou-se a primeira tripulação operacional de inspeção em voo no País, quando foi adquirido o primeiro avião-laboratório. A primeira inspeção em voo em território nacional, com aeronave e tripulação da FAB, foi realizada em 21 de fevereiro de 1959, com o objetivo de verificar a adequação do sítio de Itaipuaçu, no Rio de Janeiro (RJ), para a instalação para instalação de um VOR, equipamento eletrônico usado na navegação aérea.
Fotos: DECEA
Em 20 de fevereiro de 1941, a aviação brasileira testemunhou um marco histórico com a criação do Correio Aéreo Nacional (CAN), resultado da fusão do Correio Aéreo Militar e do Correio Aéreo Naval. Essa unificação visava integrar as diversas regiões do país, especialmente as mais isoladas, por meio de um serviço postal aéreo eficiente e seguro.
A origem do CAN remonta a 1931, quando o Correio Aéreo Militar iniciou suas operações, estabelecendo rotas aéreas para o transporte de correspondências e promovendo a integração nacional. Em 1934, o Correio Aéreo Naval foi criado, ampliando a cobertura e a capacidade de transporte aéreo. A fusão desses dois serviços em 1941 consolidou o CAN, que passou a operar sob a responsabilidade da Força Aérea Brasileira, desempenhando um papel crucial na comunicação e no desenvolvimento do país.
Ao longo das décadas, o CAN evoluiu, adaptando-se às novas demandas e tecnologias. Além de seu papel primordial no transporte de correspondências, o CAN expandiu suas funções para incluir missões de transporte logístico, apoio humanitário, busca e salvamento, e evacuação aeromédica, consolidando-se como um pilar essencial da infraestrutura nacional.
Em 13 de fevereiro de 1941, o Brasil testemunhou uma transformação significativa em sua estrutura militar aérea com a promulgação do Decreto-Lei nº 3.047. Este decreto implementou as denominações dos postos da hierarquia militar das Forças Aéreas Nacionais, alinhando-os às nomenclaturas do Exército e da Marinha.
Antes dessa unificação, as forças aéreas brasileiras operavam sob denominações distintas, o que gerava confusão e dificultava a integração entre as diferentes forças armadas. A padronização dos postos visava não apenas uniformizar a classificação, mas também fortalecer a coesão e a eficiência das operações militares aéreas.
Essa mudança ocorreu em um período de intensas transformações para a aviação militar brasileira. Em 20 de janeiro de 1941, o presidente Getúlio Vargas havia criado o Ministério da Aeronáutica, unificando as aviações navais e militares e incorporando o Departamento de Aeronáutica Civil (DAC) e o Ministério da Viação e Obras Públicas.
A criação do Ministério da Aeronáutica e a unificação das forças aéreas brasileiras ocorreu em um contexto de crescente tensão internacional, especialmente com o avanço da Segunda Guerra Mundial. O Brasil, ao alinhar suas forças armadas e padronizar sua posição, buscava fortalecer sua defesa nacional e sua posição no cenário internacional.
Em várias ocasiões a Ilha do Governador, tradicional bairro da Cidade do Rio de Janeiro, foi pioneira em assuntos ligados à aviação no Brasil, como por exemplo a participação de Edmound Plaucht em um concurso promovido pelo jornal “A Noite”, em que os concorrentes deveriam percorrer de avião, o trajeto do Centro da cidade até a Praia do Zumbi.
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Em 15 de abril de 1913, foi a vez do ilustre piloto norte-americano David H. Mc Cullogh, que em seu hidroplano “Curtiss”, a partir da Ponta da Ribeira, onde havia sido construído um hangar, realizou alguns voos de demonstração nas proximidades da Ilha do Governador.
Não resistindo a participar de uma aventura inédita, o então Presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca, chegou à Ponta da Ribeira, a bordo da lancha “Olga” para participar de um voo de 18 minutos sobre a Baía de Guanabara, cabendo-lhe a honra de ter sido o primeiro Presidente da República do Brasil a embarcar em um avião.
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