O acervo pessoal de Alberto Santos-Dumont é, primordialmente, um conjunto de fontes relevantes para a história e o desenvolvimento científico nacional. Essa consciência permeou personalidades chaves para sua manutenção até os nossos dias: Sr. Jorge Toledo Dodsworth (casado com a sobrinha de Santos-Dumont, Sra. Sophia Dumont e pai da Sra. Sophia Helena), o Exmo Sr Ten Brig Ar Lavenère-Wanderley (casado com a sobrinha-neta de Santos-Dumont, Sra. Sophia Helena) e Sra. Sophia Helena Dodsworth Wanderley. Todos vinculados à história de Santos-Dumont por laços afetivos-familiares cumpriram com carinho, com extrema reverência e muita dignidade a tarefa de conservar os papéis. Porém, uma qualidade foi fundamental à família de Santos-Dumont: a tenacidade com a qual lutaram para não deixar o tempo esmarecer os papéis e a memória. Tenacidade que era própria de Santos-Dumont. É essa história que será contada a seguir.
Durante o tempo em que esteve na França, Santos-Dumont contratou os serviços de empresas especializadas em reunir matérias de jornais; qualquer notícia, em qualquer jornal, sobre assuntos aeronáuticos era-lhe enviada, principalmente pelo Courrier de La Presse. A maioria destas matérias continha notícias sobre as atividades do próprio Santos-Dumont, principalmente nos anos de 1901 e 1902. Desta forma, reuniu uma imensa coleção de recortes de jornal, que trouxe consigo para o Brasil, guardando-os na Encantada, sua residência de Petrópolis, onde permaneceram após seu falecimento. Ao eclodir a Revolução Constitucionalista de 1932, a parte da família que residia em São Paulo, cidade que foi mais duramente atingida, receou uma invasão e extravio dos pertences pessoais que se encontravam na casa de Petrópolis, pois ela ficava desguarnecida de segurança. O Sr. Jorge Toledo Dodsworth, preocupado, trouxe os referidos pertences, e dentre eles, um baú de vime fechado com os “papéis” de Santos-Dumont, que foi depositado no porão da sua residência no Flamengo – RJ, e lá permaneceu por mais de 30 anos.
Com o falecimento do Dr. Jorge Toledo Dodsworth, sua viúva, a Sra. Sophia Dumont, sobrinha de Santos-Dumont, resolveu desfazer-se da residência. Nesta ocasião, em 1969, o baú foi reencontrado e deixado sob a guarda do Exmo Sr Ten Brig Ar Lavenère-Wanderley, casado com a filha do Sr. Jorge Toledo, Sra. Sophia Helena. O Brigadeiro, nos três anos subseqüentes, cuidou dos documentos, organizando-os em cinco volumes encadernados que juntos possuem em torno de 2200 unidades documentais, testemunhos da trajetória de Santos-Dumont durante os anos de 1899 a 1903. Os registros posteriores a essa data foram conseguidos e reunidos pelo Exmo Sr Ten Brig Ar Lavenère-Wanderley, enriquecendo o acervo.
O Exmo Sr Ten Brig Ar Lavenère-Wanderley encontrou o velho baú em péssimas condições e, como lembrava Sra. Sophia Helena, naquela época não existia, ainda, o Aterro do Flamengo e o mar ficava a poucos metros da casa, invadindo o porão, por algumas ocasiões. O baú se desmanchou ao ser aberto e os jornais estavam bastante úmidos, tanto que alguns jornais perderam-se definitivamente. O trabalho do Ten Brig Ar Lavenère-Wanderley foi de grande determinação: separava os jornais por lotes para recuperá-los. Em seguida, procedeu à organização, recortando cada artigo e colocando o cabeçalho apropriado, mantendo as referências do jornal de origem e permitindo a identificação completa de cada fonte.
A continuidade do arquivo se deu a partir de buscas junto à família de Santos-Dumont e às pessoas que, possivelmente, mantinham algum documento. Fato que pode ser comprovado por intermédio das cartas escritas pelo Exmo Sr Ten Brig Ar Lavenère-Wanderley aos amigos e familiares, e também na realização de um Concurso patrocinado por uma famosa empresa de reprografia para auxiliar o Exmo Sr Ten Brig Ar Lavenère-Wanderley na localização de outros documentos sobre Santos-Dumont.
Com o crescimento do acervo houve necessidade de dotar de alguma ordem os registros. Com poucos conhecimentos na arte de arquivar, mas com imensa vontade e cuidado o Exmo Sr Ten Brig Ar Lavenère-Wanderley passou a dedicar–se à organização documental. Para isso, foram utilizadas técnicas disponíveis e mais usuais na época, ou seja, a preparação de álbuns. A montagem desses volumes demandou trabalho intelectual, de classificação de temas e, dentro deles, em ordem cronológica, a colocação das legendas necessárias à compreensão dos fatos arrolados.
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