O Brig Athayde Bohrer, Conselheiro do INCAER, foi escolhido para paraninfo da Turma Asterion, que se formou este ano na AFA. Além de participar de todos os eventos que celebraram a promoção dos Cadetes ao Aspirantado, fez um discurso empolgante para os futuros oficiais da Força Aérea Brasileira.
“Meus estimados jovens da Turma Asterion
Desejo, inicialmente, levar aos integrantes da Turma meu agradecimento e externar minha enorme satisfação e mesmo emoção, pela atenção com que me distinguiram.
Ao longo da minha carreira, particularmente após deixar o Serviço Ativo da nossa Corporação, tenho sido alvo de generosas atenções de companheiros de Arma que muito me sensibilizam. Vossa atitude, no entanto, escolhendo-me, Paraninfo da Turma, quarenta anos após ter deixado o comando desta Academia, inesquecível Unidade, e aos noventa e cinco anos de idade, confesso, teve um significado especial e se constituiu uma das maiores alegrias por mim sentidas em minha vida profissional alegria que ficará gravada em minha mente e em meu coração.
Meus estimados Aspirantes
Ontem Cadetes, dentro de alguns meses Oficiais e, em futuro próximo, muito mais próximo do que imaginam, Comandantes, Diretores ou Chefes.
Há quarenta anos, deste mesmo local eu dirigia estas mesmas palavras ao nosso Comandante, o então Cadete Bermudez e, nos anos anteriores, aos integrantes do atual Alto Comando que, como hoje acontece com vós, não tinham a mínima ideia do que o futuro lhes reservaria.
Fostes até hoje a razão de ser desta Academia. Tudo aqui girava em torno de vós. Esta imensa estrutura que a compõe, existe por vossa causa.
Ela ao mesmo tempo em que vos proporcionava as condições indispensáveis à realização dos vossos sonhos - ser Oficial da Força Aérea Brasileira, construía ao vosso redor uma verdadeira blindagem que vos protegeu dos diversos problemas que não sendo ligados à vossa formação, poderiam vir a impedir ou dificultar sua concretização.
Durante quatro anos aqui vivestes como que em uma redoma cujo interior só era permitido acesso aos assuntos ligados à vossa formação, impedindo assim, que problemas alheios a ela desviassem vossa atenção do vosso objetivo maior - ser Oficial da Aeronáutica.
A partir de agora outras e maiores serão vossas responsabilidades. Problemas que são normais na vida da nossa Corporação, mas que não chegavam até vós terão que ser enfrentados. E terão que sê-lo paralelamente ao trabalho de permanente aperfeiçoamento que tereis que desenvolver em benefício da nossa Corporação.
Cada dia da nossa vida é um dia de aprendizado. Sempre há e sempre haverá o que aprender. Não podemos desperdiçá-los.
Há os que olham, mas não veem.
Ao receberdes vossas espadas, símbolo da honra militar, sem dúvida vereis muito mais do que, a outros, esse ato possa parecer.
Certamente, na ocasião estará presente em vossas mentes, como um filme, o passado que vivestes durante os últimos quatro anos até chegar àquele momento. Nele desfilarão não apenas vossos temores, preocupações e alegrias, mas também a participação que tiveram vossos pais e demais entes queridos na vossa vida: seus cuidados, suas preocupações e, em muitas ocasiões sofrimento e até sacrifícios, que foram, em inúmeros casos, os principais motivadores e impulsionadores das vossas vitórias.
Mas esse filme terá um final feliz. Ele terá como epílogo o orgulho que sentireis por terdes correspondido à expectativa dos que vos estimam, por teres cumprido o vosso dever!
“O jovem é puro, ele anseia por alguém que lhe mostre um caminho”, disse um grande Educador por ocasião da aula inaugural desta Academia no meu último ano de comando. O jovem é puro, repito eu.
Aqui tivestes a felicidade e o privilégio de encontrar este alguém, representado por vossos instrutores e professores, alguém que lhes mostrou o caminho que deviam seguir, como militares, como profissionais e como seres humanos que são. Caminho que vos trouxe até esta memorável data e que foi balizado pela dignidade, pelo esforço, pela persistência, e pelo desejo de acertar.
Todos vós, que com empenho, perseverança e, muitas vezes, com sacrifício, enfrentastes e vencestes os mais variados obstáculos que a vós se apresentaram em vossa caminhada rumo ao Oficialato da Força Aérea Brasileira – Aviadores, Intendentes ou Infantes da Aeronáutica, têm a mesma importância para a Organização e são, da mesma forma, indispensáveis para que ela possa cumprir com êxito sua Missão.
Todos têm os mesmos direitos, mas, também, os mesmos deveres. Deveres para com a Pátria, deveres para com a nossa Corporação deveres para com a Sociedade.
Tende presente, sempre, que uma Organização é e será o que forem seus integrantes, boa ou má, na medida em que eles desenvolverem um bom ou mau trabalho.
É imperioso, portanto que cada uma das vossas ações se transforme no pequeno tijolo que estareis colocando no edifício grandioso que é a nossa Força Aérea.
Tende em mente que o Livro da Vida é o que proporciona o melhor ensinamento. Nenhum outro o substitui.
Quase tudo que hoje acontece é repetição de fatos que já ocorreram.
Sede, então, curiosos, observando o presente e procurando tirar do passado ensinamentos que poderão ser úteis no futuro.
Lembrai-vos que quem viveu mais, viu mais, sofreu mais, teve mais alegrias, mas também, conviveu com mais tristezas e, assim, aprendeu mais. Por isto, procurai ouvir os mais velhos nos quais confiais.
Não sereis obrigados a seguir seus conselhos, mas, certamente, estes serão valiosos para a tomada de decisões.
Cultivai, acima de tudo, o sentimento da lealdade: lealdade com a Pátria, lealdade com os companheiros, lealdade com os superiores e subordinados e lealdade com vós mesmos.
E sereis leais se aprimorardes vossos conhecimentos a fim de que, melhor preparados, possais ocupar, de forma adequada, o lugar que vos caberá, em futuro próximo, na Força Aérea Brasileira.
E sereis leais se utilizardes, da melhor forma possível, os imensos recursos, de toda natureza, que a Nação coloca à vossa disposição ou sob vossa guarda.
E sereis leais se pautardes vosso procedimento pelos sadios princípios da disciplina e do respeito ao próximo: aos colegas, aos superiores e aos subordinados, e que essa disciplina seja um estado de espírito e não um fato imposto.
Em resumo: sereis leais se cumprirdes vosso dever.
Em futuro próximo assumireis na nossa Corporação, em variados níveis, funções de Comando, de Direção ou de Chefia, quando vos caberá dirigir homens. Sede, portanto, profundamente humanos e compreensivos, tratando vossos semelhantes como gostaríeis que vos tratassem. Se isto fizerdes, dificilmente errareis.
Tende sempre presente em vossas mentes a frase do imortal Saint Exupéry: “Ser homem é ser responsável”. Sede homens, jamais vos eximindo de vossas responsabilidades.
Lembrai-vos que nem todo Chefe é um Líder, mas que todo Líder certamente será um Chefe.
Evitai, portanto, impor vossas ideias, procurando conduzir vossos comandados pelo caminho escolhido, através da liderança e não esqueçais que esta não se impõe, conquista-se.
Dedicai-vos com amor à carreira que abraçastes e certamente alcançareis os objetivos que traduzem vosso ideal.
Se isto fizerdes certamente sereis felizes e vos sentireis realizados que é o que neste momento, tão significativo em vossa vida, desejo a todos vós, os estimados integrantes a Turma Asterion, cuja História, com grande honra e orgulho, a partir de agora passo a fazer parte.
E, para concluir, deixo para vós, uma frase que pronunciei pela primeira vez em 1964, quando comandava o 5º Grupo da Aviação, para os Aspirantes Estagiários que, na época, representavam oitenta por cento dos diplomados no ano anterior, frase que, a partir de então, por estar convencido do seu significado, passaria a levar aos jovens aos quais me dirigia:
“O importante não é dar muito, mas sim dar o melhor de si”.
Sede felizes e que Deus vos abençoe e proteja.”
Brig Ar Refm Clovis de Athayde Bohrer
Comandante da AFA e Brig Athayde
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