“Sou profissional de saúde. Ajudo as pessoas a recuperarem sua saúde, ou viverem melhor com suas doenças crônicas. Um trabalho talvez nem sempre valorizado, nem sempre visível. Exceto agora. Vivemos um momento atípico e altamente mobilizador provocado por uma pandemia e, repentinamente, minha atividade se coloca no centro das atenções. Com o avanço da COVID-19, eu e meus colegas passamos a ser vistos como heróis e a merecer sensíveis homenagens e agradecimentos pelo que escolhemos fazer e sempre fizemos. O problema é que também enfrento meus temores, minhas dúvidas, meus conflitos. Essa experiência é dramaticamente acentuada pelo fato de que testemunhamos pessoas e pacientes sucumbirem a uma doença com a qual ainda não sabemos lidar direito. Além disso, testemunhamos nossos colegas de profissão também sucumbirem. E agora, a essa imagem que formei de mim como alguém que cuida se soma a visão coletiva de que somos heróis! Como incorporar papéis aparentemente tão incongruentes com o que realmente vivemos e sentimos? Já me disseram que herói não é necessariamente aquele que vence seus inimigos, mas sim aquele que vence seus temores. No entanto, meus temores são muitos e alguns deles nem consigo explicitar. Então escolho seguir em frente, fazer meu trabalho, mas internamente, tento organizar meus pensamentos e sentimentos. Quero alguém perto de mim, para me ouvir, para compartilhar, mas não me sinto à vontade para procurar ajuda formal. Afinal, sou eu quem cuida, e meu trabalho é heroico, além do que não tenho tido muito tempo ...”
Tomamos conhecimento, de diferentes maneiras, que o trabalho das equipes de saúde não está sendo fácil. E o discurso acima, uma livre organização de vários depoimentos que temos informalmente recebido, é o retrato desta realidade.
É preciso refletir sobre os enfrentamentos dos profissionais de saúde, que neste momento, foram colocados como os principais protagonistas desta guerra que se trava, com elevadas expectativas produzidas pelo ideário coletivo.
Além do desgaste físico inerente às batalhas, os profissionais de saúde vivenciam os desgastes emocionais, estes causados pelas dificuldades na atuação, incertezas frente as possibilidades de tratamento/cura, por compartilhar tantas histórias e tristezas dos pacientes, ou mesmo através do luto nas despedidas. Não esquecendo, claro, do distanciamento da família para protegê-los tanto do risco de contaminação, quanto das suas inseguranças e angústias. A imprevisibilidade na duração de todo este contexto, intensifica tais vivências. É possível que o estresse apareça, que o medo circunde, que o desânimo chegue. A luta contra esta pandemia tem deixado fortes marcas, mesmo quando vencemos algumas batalhas nesta guerra.
E por tudo isso, você, profissional da saúde, merece mais que um “MUITO OBRIGADO”.
Nós agradecemos sim, e muito. Mas também nos oferecemos para estar junto de vocês, logo na segunda linha de combate, na retaguarda. Se precisar, procure um dos canais de apoio que estão sendo disponibilizados pela Seção de Psicologia, na forma de atendimento, orientação e material informativo. Ou simplesmente nos procure. Estamos próximos.
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