Em Lisboa, o padre Bartolomeu Lourenço pediu patente para um "instrumento para se andar pelo ar" - que se revelaria ser, mais tarde, o que hoje se conhece por "aeróstato" ou "balão" - concedida no dia 19 de abril de 1709. O fato causou celeuma na cidade e o núncio apostólico aí residente, o cardeal Miquelângelo Conti (1655-1724), apressou-se em escrever uma carta ao Vaticano comunicando a novidade:
“Esta cidade encontra-se divertida pelos discursos sobre uma proposta feita ao Rei por um sacerdote do Brasil, vindo com as últimas naves, o qual pretende inventar nova navegação para ir às Índias sem tocar a Tramontana, porém diretamente pelo levante e poente; e também um engenho para voar, até com dez pessoas dentro, a respeito do qual foram ouvidos os pareceres de muitos ministros e matemáticos.”
A notícia rapidamente se espalhou para outros reinos europeus, que deram a devida publicidade. Bartolomeu ganhou a alcunha pejorativa de "Voador" e o seu invento, divulgado na Europa em estampas fantasiosas, que em geral o retratavam como uma barca com formato de pássaro, ficou conhecido como "Passarola".
Tais ilustrações haviam sido na verdade elaboradas pelo filho primogênito do 3º Marquês de Fontes, D. Joaquim Francisco de Sá Almeida e Menezes, com a conivência de Bartolomeu. O futuro 2º Marquês de Abrantes contava 14 anos em 1709 e era, então, aluno de matemática do padre, sendo a única pessoa à qual ele permitia livre acesso ao recinto em que o engenho voador era guardado. Como o rapaz vivesse assediado por curiosos, que constantemente lhe faziam indagações acerca da invenção, resolveu ele, para parar de ser importunado, elaborar o exótico desenho da Passarola, em que tudo era propositadamente falseado. E para preservar o verdadeiro princípio da invenção, o Princípio de Arquimedes, atribuiu a ascensão da engenhoca ao magnetismo, então a resposta para quase todos os mistérios científicos. Esperava dessa maneira melhor proteger o segredo confiado à sua guarda e ainda ludibriar os bisbilhoteiros. Comunicou o plano a Bartolomeu, que o aprovou, e fingiu deixar o desenho escapar por descuido. A Passarola, inspirada ao que parece na fauna fabulosa de algumas lendas do Brasil, foi rapidamente copiada pelos primeiros que a apanharam, logo se espalhando pela Europa em várias versões, para grande riso dos dois embusteiros.
Bartolomeu deu início à confecção do "instrumento para se andar pelo ar" no dia 6 de maio de 1709. Alguns dias depois, alojou-se em Alcântara, numa quinta que lhe fora oferecida por D. João V, por julgá-la mais acomodada para a fabricação do invento. Demonstrações públicas foram marcadas para 24 de junho, o dia de São João (Santo homônimo do rei português), mas acabaram adiadas, porque o monarca se encontrava então adoentado.
O presbítero brasileiro se tornou assunto de todas as conversas, sendo por uns considerado “homem de gênio”, e por outros, “feiticeiro e visionário”. A Princesa Isabel Cristina, mulher de Carlos VII, da Espanha, muito interessada no novo invento, assim contava as novidades à sua mãe, Cristina Luísa D'Oettingen, Duquesa de Brunswick, em carta de 2 de julho de 1709:
“Quem me dera um dia junto a Vossa Alteza! Quantas coisas eu teria a dizer! A rainha de Portugal pediu-me ir visitá-la logo que esteja pronto o navio voador, pelo que está em Lisboa um homem que se gaba de poder fazer um capaz de viajar pelos ares. Se essa invenção tiver êxito, eu irei todas as semanas passar um dia com Vossa Alteza. Seria uma viagem encantadora para mim, mas duvido muito que ele leve avante a idéia!”
Texto extraído da Rev. Bras. Ensino Fís. vol.31 n.º 3 São Paulo July/Sept. 2009
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