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"Queremos despertar a doutrina de segurança de voo  para elevar o nível de atenção e de alerta na preservação da vida", afirmou o Chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), Brigadeiro do Ar Dilton José Schuck. A declaração foi feita na abertura do Seminário de Segurança de Voo na Aviação de Instrução, que aconteceu no sábado (8/11), no Aeroporto Internacional Salgado Filho, na capital gaúcha.

O chefe do Cenipa também destacou a importância das atividades educativas  na transmissão do conhecimento especializado, e lembrou que a prevenção exige cada vez mais  o engajamento de todos no fortalecimento da cultura de segurança de voo, em especial na formação de novos pilotos. "O acidente mexe com o emocional das pessoas. Não precisamos passar por isso", declarou.

O seminário, que foi organizado pelo Quinto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA V), teve por objetivo enfatizar a responsabilidade de futuros pilotos para a redução do número de ocorrências aeronáuticas na aviação de instrução. Participaram além de pilotos, gestores, proprietários e instrutores de aeroclubes e de escolas de aviação.

Na avaliação do chefe do SERIPA V, Tenente-Coronel Aviador Carlos Emmanuel de Queiroz Barboza, o evento alcançou os objetivos. “Superou as expectativas pela expressiva participação da aviação de instrução e também pelo debate estabelecido após cada palestra”, afirmou. Ele ainda ressaltou a presença de representantes do segmento dos três estados da Região Sul.

Conforme dados do Cenipa no período de 2004 a 2013, a aviação de instrução  registrou os seguintes percentuais de acidentes na Região Sul: 41,94 % no Rio grande do Sul, 33,87% no Paraná e 24,19% em Santa Catarina. No comparativo nacional, o SERIPA V ocupa o segundo lugar no país, atrás do SERIPA VI, tendo registrado 62 acidentes no intervalo de tempo de dez  anos.

Quem participou aprovou

"Este tipo de evento poderia acontecer com mais frequência para esclarecer dúvidas. Quanto à segurança de voo, deveria se transformar em curso obrigatório para ser instrutor de voo ou para mudar de nível na evolução da carreira de piloto. "Hoje a segurança de voo só agrega currículo," disse Diego Dorneles, 21 anos, aluno do Aeroclube de Santa Cruz do Sul (RS).

“Palestras e debates são fundamentais na melhoria do conhecimento, porém medidas precisam ser tomadas. Nos últimos anos, o Rio Grande do Sul perdeu força na formação do piloto brasileiro. Não podemos esperar tanto tempo para que aspectos importantes sejam decididos", afirmou o piloto e presidente do Aeroclube de Santo Angelo, Paulo Dalla Porta, que busca respostas para o futuro dos Aeroclubes no Brasil.

Para o Diretor da Faculdade de Ciências Aeronáuticas da PUCrs, professor Elones Fernandes Ribeiro, o seminário é uma oportunidade para compartilhar informações e conhecimentos, mas sobretudo estabelecer contatos entre profissionais da atividade aérea. "Falar sobre a filosofia de segurança de voo nunca é demais e enriquece a padronização," enfatizou.

O engenheiro, piloto e instrutor do Aeroclube de Eldorado do Sul, Luciano Rodrigues, 500 horas de voo, destacou a palestra gerenciamento do risco pelo conteúdo importante na formação do piloto. "Vamos espalhar esse conhecimento para se transformar em ação no dia a dia da instrução aérea", disse.

Aguardando apenas a documentação para entrar na categoria de instrutor de voo no Aeroclube de Francisco Beltrão, no Paraná, o piloto comercial Queite Facciochi, 127 horas de voo, avaliou o alto nível dos palestrantes, e disse que valeu a pena ter viajado mais de 600 quilômetros de carro, com chuva, para participar do evento.

De acordo com o representante da Federação Gaúcha de Aeroclubes, Sergio Antonio Marcos, algumas entidades estão fora das operações no Rio Grande do Sul. Daqui pra frente, somente sobreviverão aquelas que oferecerem uma estrutura mais independente. "A aviação de instrução enfrenta uma situação difícil. Os aeroclubes deixaram de ser a atividade de final de semana e dependem da presença do aluno nos cursos de formação", afirmou.

"A diversidade dos temas mesclados com a filosofia de segurança de voo e o alerta médico foram aspectos interessantes das palestras dentro da proposta do evento. Vale destacar a participação de expressivo número de entidades e as boas instalações do local",  avaliou o futuro chefe do SERIPA V, Tenente-Coronel Aviador  Luís Renato Horta de Castro, que deverá assumir o cargo em Janeiro de 2015.

Palestras e debates
Filosofia SIPAER - O chefe do SERIPA V, Tenente-Coronel Aviador Carlos Emmanuel de Queiroz Barboza, proferiu a primeira palestra do evento sobre a filosofia do Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SIPAER).  Além explicar a filosofia SIPAER, mostrou os principais fatores contribuintes nos acidentes dos segmento:  julgamento do piloto, 13,96%; supervisão gerencial, 11,88%, aplicação de comandos, 10,42%, e  instrução 9,17%.

De acordo com o palestrante, a carreira de piloto exige cursos teóricos e práticos para atuar na aviação, caminho traçado para o profissional que deseja destacar-se na carreira, porém só serão bem sucedidos, aqueles que elegerem a prevenção como fundamento básico. Para exemplificar foram mostrados vários vídeos exemplificando casos reais de acidentes que abreviaram sonhos e vidas.

Gerenciamento do risco - "O erro e o acidente existem, mas devem estar controlados ao risco aceitável. É necessário identificar, analisar, eliminar ou mitigar os riscos que ameaçam as capacidades de uma organização. Para isso, exige-se o desenvolvimento de habilidades do indivíduo para reconhecer o perigo e suas consequências", destacou o professor da PUCRS, Éder Henriqson, na  apresentação do tema gerenciamento do risco.

O palestrante disse ainda que, as pessoas assumem riscos por motivação e predisposição diante de situações perigosas aliadas ao desconhecimento de suas consequências. Além de aprender a lidar com os riscos, devem obter uma qualificação estruturada do ponto de vista da prevenção de acidentes aéreos.

Automedicação e a atividade aérea – Em 2010, um copiloto apresentou um histórico de sobrepeso e dieta livre de carboidratos, com jejum de 14 horas, com apenas uma dose de álcool 36  horas antes do voo, somado à insônia, preocupações e ansiedade. Oito horas antes da decolagem, ele utilizou por conta própria um comprimido de clonazepam. A 30 minutos antes do pouso, o copiloto dormiu profundamente, segundo o relato do comandante. Na opinião do médico, o medicamento contribuiu para um incidente grave.

O caso foi mostrado pelo Capitão Médico Psiquiatra Anderson Ravy Stolf, do Hospital de Aeronáutica de Canoas, na palestra sobre a automedicação e a atividade aérea. Ele alertou aos aeronavegantes para combinação de medicamentos e voo, e recomendou para manter o acompanhamento de um médico especializado durante qualquer tratamento de saúde.

Certificação de pessoas e SGSO - Especialista em regulação civil pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e engenheiro aeronáutico pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Audir Mendes de Assumção Filho apresentou o projeto de melhoria da qualidade de certificação de pessoal de aviação civil. que busca simplificar a vida do cidadão. Ele também abordou o Sistema de Gerenciamento de Segurança Operacional (SGSO).

Com relação ao SGSO, o palestrante afirmou que a eliminação de todos os acidentes e incidentes é impossível e que falhas continuarão a existir apesar dos esforços de prevenção.  “Não existe atividade humana ou sistema feito pelo homem que esteja totalmente livre de riscos e erros, porém eles devem ser aceitáveis em um sistema implicitamente seguro, desde que estejam sob controle", destacou

Comunicação e fraseologia - Mesclando humor e conceitos de comunicação, o Suboficial de Controle de Tráfego Aéreo Alexandre dos Santos Loureiro, do Destacamento de Controle de Tráfego Aéreo, do DECEA (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), abordou aspectos da “fraseologia e comunicação” entre pilotos e controladores de tráfego aéreo. Discorreu sobre  as interferências, barreiras e filtros que atuam no processo comunicativo no relacionamento entre profissionais.

O palestrante, que atua na Torre de Controle da Base Aérea de Santa Maria (RS), disse que a qualidade da comunicação eficiente está relacionada ao entendimento mútuo no breve contato permeado por conhecimentos e habilidades do trabalho em equipe. "O sucesso da atividade requer cooperação e compartilhamento de informações, além de um comportamento essencialmente técnico ditado por normas internacionais de segurança e eficiência do tráfego aéreo", afirmou.

Estudo de caso real - Encerrando o seminário, o Tenente Aviador Douglas André Kleveston Soliman, investigador do SERIPA V, mostrou o panorama estatístico regional da aviação de instrução, no período de novembro de 2013 a outubro de 2014, marcado por 16 acidentes e incidentes graves e quatro fatalidades. O índice aproxima a aviação de instrução à aviação agrícola, historicamente uma das que apresenta mais acidentes na região.

Os estudos de casos reais apresentados pelo palestrante tiveram por objetivo elevar o nível de alerta na aviação de instrução para evitar perdas de vida e de material decorrentes de acidentes aeronáuticos. A análise de ocorrências na aviação de instrução revelou os principais fatores contribuintes indicando a perda de controle no solo em 56% dos acidentes investigados.

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