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No dia 20 de março, Boeing 737 com 80 passageiros colidiu com uma ave durante o que seria uma “simples” decolagem de Cuzco para Lima, no Peru. A ave entrou em um dos motores e a tripulação decidiu interromper a decolagem, o que resultou na parada da aeronave 150 metros fora da pista. Os ocupantes saíram ilesos. Pelo menos 10 voos foram cancelados e outros, desviados para aeroportos alternativos. O fechamento do aeroporto de Cuzco e os prejuízos causados à empresa aérea devem resultar em mais de US$ 10 milhões.

Colisões com fauna são comuns e envolvem aves em mais de 95% dos casos. Mas, apenas 9-10% dos impactos causam algum tipo de dano, dificultando o reconhecimento deste perigo natural como um dos problemas na aviação mundial. Também retarda o gerenciamento desse risco, o fato de que maior parte dos prejuízos é absorvida por empresas aéreas, enquanto o investimento para reduzir colisões nos aeródromos tende a ficar a cargo de seus operadores.

No Brasil, ocorrem mais de 3.000 decolagens diariamente. Mas como evitar acidentes se especialistas reforçam que é impossível eliminar colisões entre aviões e animais? Quais as principais medidas de controle para reduzir essas colisões?

A primeira coisa, é saber distinguir probabilidade de severidade. Pois sem o entendimento da diferença entre elas, medidas de prevenção ao risco de fauna podem não ser utilizadas da forma mais adequada. Afinal, recursos não são ilimitados em nenhum ambiente gerencial.

A chance ou probabilidade de ocorrer colisão com determinada espécie está diretamente ligada à presença e quantidade desse animal onde há movimento de aeronaves. Por isso, a maioria das colisões acontece dentro do aeródromo.

A consequência ou severidade da colisão causar danos à aeronave e conduzir ao acidente, está intimamente ligada à massa do animal e à velocidade da aeronave no momento da colisão. Então, é pior colidir voando em cruzeiro? Com certeza, pois além da velocidade da aeronave ser maior, normalmente, aves mais pesadas são encontradas em altitude. Todavia, na decolagem, a aeronave precisa acelerar, com motores funcionando em alta rotação, e uma colisão pode acabar sendo bastante perigosa, porque esta rotação interna também influi na energia de impacto.

Animais com massa superior a 1.125 gramas, como carcarás e biguás, ou que formem grupos, como quero-queros e urubus, são aqueles que podem causar mais danos, pois a massa total envolvida na colisão é proporcional ao dano causado. Identificar estas aves e os atrativos que provocam seu movimento, dentro e fora do aeródromo, é essencial para aplicar a primeira e mais eficiente medida de controle, a
modificação do ambiente.


Por exemplo, se existirem carcarás e quero-queros próximos à pista do aeródromo após o corte de grama, provavelmente há pequenos animais e invertebrados disponíveis. Então, o recolhimento de aparas de grama, logo após o corte e o uso de inseticidas no gramado podem reduzir a oferta alimentar e a presença dessas espécies.

Nem sempre isto é suficiente. Em alguns casos, dispositivos de afugentamento devem ser instalados para causar estresse nas aves, levando-as a selecionar outro local, longe do aeródromo, são as chamadas
medidas de dispersão ativa. Contudo, é fundamental entender que para criar o “ambiente de medo”, pode ser necessária a associação de medidas de controle populacional.

Equipes bem treinadas, coordenadas por profissionais capacitados, são indispensáveis para reduzir colisões mais severas, devendo ter capacidade de identificar perigos, avaliar riscos e aplicar rapidamente medidas mitigadoras, como: dispersão ativa, emissão de alertas à torre de controle ou, até mesmo, a suspensão momentânea da operação. Embora a adoção de equipe possa parecer onerosa, um evento com danos severos pode gerar prejuízos financeiros superiores ao custo anual do grupo de profissionais.

O nível adequado de gerenciamento pode não ser alcançado sem que as espécies envolvidas nas colisões sejam corretamente identificadas. Afinal, este tipo de risco tem forte componente ecológico e está diretamente relacionado às preferências de cada espécie.

Assim, os dados coletados devem guiar o processo de gerenciamento de risco, não representando simplesmente “controle estatístico”, pois a  informação, por si só, não reduzirá riscos. É importante aplicar de modo integrado as medidas que representam o Safety System Management no risco de fauna por tratar-se de problema gerencial cujo principal resultado é a redução das colisões com fauna mais severas.

Para acessar o comunicado da empresa aérea peruana após a colisão que causou a saída de pista da aeronave em Cuzco, clique
aqui.

 

 
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