Colisões com fauna representam risco significativo à aviação e estão entre as ocorrências mais reportadas em todo o mundo. No Brasil, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) recebe reportes de colisões, quase colisões e avistamentos. As informações são tratadas, os dados adicionais são requeridos e cada evento se transforma em reporte único, que fica disponível para uso por operadores de aeronaves – pilotos e mecânicos–, operadores de aeródromos, controladores de tráfego aéreo, órgãos reguladores e autoridades ambientais.
O texto a seguir é a tradução de matéria veiculada pelo Autralian Transport Safety Bureau (ATSB), com a finalidade de mostrar que colisões com fauna representam risco importante à segurança de tripulantes, bem como risco econômico para operadores de aeródromos e empresas aéreas.
Dois incidentes recentes na Austrália ilustram como danos podem ocorrer de maneira rápida e inesperada.
Em setembro de 2015, o piloto da aeronave Metroliner SA227 estava realizando voo fretado de Brisbane para Emerald via Thangool, em Queensland. Logo após o toque, a 80 nós, com todas as rodas do trem de pouso no solo, o piloto viu de relance um animal cruzando a pista da esquerda para a direita.
A hélice direita colidiu com o animal identificado como um canguru pequeno. O piloto informou ter ocorrido grande estampido associado à colisão, vibração considerável em toda a aeronave, mas nenhuma indicação anormal do motor. O piloto prosseguiu na corrida após pouso e não usou o reverso para reduzir a velocidade da aeronave. Após o estacionamento e corte dos motores, foi realizada inspeção externa e uma das pás da hélice estava torcida. Por sorte, o piloto saiu ileso. Embora o aeroporto de Thangool tenha cerca de proteção contra fauna, na época, a área não estava completamente cercada. Não havia reporte de colisão com cangurus no local nos últimos 28 anos e havia sido feita revisão de pista 20 minutos antes do pouso.
Ainda em setembro de 2015, outra colisão foi reportada com a aeronave Raytheon B200 que realizava missão de evacuação aeromédica (MEDVAC) de Townsville para Barcaldine, em Queensland. O pouso ocorreu próximo do amanhecer, o piloto viu de relance um pequeno canguru antes da colisão. Segundo informado, as indicações de motor esquerdo estavam normais, sem vibrações perceptíveis até o seu corte, que ocorreu ainda sobre a pista. A aeronave taxiou com o outro motor. A colisão causou danos às três pás da hélice do motor esquerdo, deixando a aeronave indisponível. Não houve feridos.
Estes eventos têm reporte obrigatório de acordo com o Transport Safety Investigation Act 2003. Os relatórios finais das colisões estão disponíveis para acesso em: investigation AO-2015-102
Aqui no Brasil, vários incidentes semelhantes ocorrem. Mas, a maioria dos eventos envolve aves. De modo geral, de 85% a 90% das colisões acontecem quando as aeronaves estão nas fases de voo de:
• Aproximação – de 3.500ft a 200ft de altura;
• Pouso – de 200ft até sair da pista de pouso;
• Decolagem – da soltura de freios até 500ft de altura; e
• Subida – de 500ft a 3.500ft de altura).
Neste percentual ainda existem colisões que são detectadas por carcaças encontradas sobre a pista de pouso, sendo classificadas na ‘fase de voo’ fictícia denominada como revisão de pista, somente para ordenamento dos dados.
O CENIPA publica, todos os anos, o sumário de dados que também é enviado à Organização de Aviação Civil Internacional. O reporte de colisões, no Brasil, também é obrigatório, pois toda colisão é um incidente aeronáutico.
Já o ATSB, com regularidade, torna público o sumário estatístico com a quantidade e a frequência de colisões com fauna. O sumário tem informações para pilotos, operadores de aeródromo e empresas aéreas, reguladores e outros integrantes da indústria de aviação para auxiliar no gerenciamento de riscos associados às colisões com aves e outros animais.
Acesse o artigo original em: www.atsb.gov.au/newsroom/news-items/2016/wildlife-strike-risk/
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