EDA-Passaredo: Voando com a Esquadrilha da Fumaça
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Texto: Thiago Sabino
Prezados colegas,
após praticamente cinco meses deste grande evento, chegou o momento de poder passar a todos vocês, a minha impressão em relação ao que pudemos elaborar, planejar, acertar, e executar , sobre toda a ação em conjunto, envolvendo Passaredo Linhas Aéreas, e o Esquadrão de Demonstração Aérea, conhecido popularmente como Esquadrilha da Fumaça.
Tentarei ser direto, entretanto, sem suprimir fatos fundamentais que contribuíram sobremaneira para que o evento fosse bem feito, e que coadunasse os intentos principais entre Passaredo e Esquadrilha. Peço desculpas, caso me estenda, mas sei que os senhores hão de compreender a motivação que transparece nas linhas subseqüentes.
Abordarei o início da idéia, os caminhos, o planejamento, mitigação de possíveis falhas, execução e divulgação. Todo o projeto previu a homenagem à Esquadrilha, e o vôo em conjunto nada mais foi do que a coroação desta parceria.
O início : Constatação do porque não haver o óbvio
A grande maioria talvez saiba, mas não custa dizer: Moro em Pirassununga-SP, e por ter pai que fez parte da Força Aérea, sempre tive muito contato, não só com a Academia da Força Aérea, bem como a Esquadrilha da Fumaça. Vários amigos que lá estão, ou estiveram, já eram conhecidos da instrução da AFA.
Frequentando a Esquadrilha, sempre tivemos a oportunidade de poder acompanhar os projetos que lá passam, os futuros passos, integrantes que entram, integrantes que saem, enfim, respirar aquele ambiente em que se é extremamente profissional, trabalhando com excelência, mas sem deixar de serem pessoas agradáveis e que possuem o mesmo interesse em comum.
Logo após entrar na Passaredo, os colegas me felicitaram, e sabiam da dificuldade que era, conseguir entrar numa companhia aérea. Como sempre estávamos por lá, percebi que poderia haver um contato, entre a empresa da qual eu fazia parte, e o EDA. Num determinado dia, ao folhear um pôster desses da Fumaça, perguntei à então Tenente Eveline: Mas porque nenhuma companhia aérea patrocina a Esquadrilha?
A Eveline me disse que simplesmente não demonstravam interesse, visto que sempre eram mandadas propostas de patrocínio para o combo revista+pôster, e nunca houve resposta. De imediato, pedi que me entregasse uma destas propostas enviadas, só que em nome da Passaredo, que eu iria tentar ver algo.
Ao encontrar o nosso presidente Cmte Felicio, no hangar, interpelei-o, e indaguei-o a respeito de participar do patrocínio com o EDA. Como era NOV2008, a verba de patrocínio já havia sido fechada, não teria como. Mas, garantiu-me o presidente: entregue-me ano que vem uma dessas, e veremos o que poderemos fazer.
Marquei uma data na agenda para JUL 2009, justamente para entregar-lhe outra proposta, e na data prevista, lá estava com a pastinha debaixo do braço, e entregando ao presidente. Levou a proposta , desta vez, e disse que haveria uma boa possibilidade de dar certo. Tempos depois, num evento de fim de ano no EDA, eis que me confirmaram que “ a Passaredo vai participar da revista...”.
Pouco tempo depois, vi a revista pronta, com nossa marca. Fiquei muito orgulhoso em ver a Passaredo ligada a uma atividade de excelência feita no Brasil, com aviões brasileiros. Só que, ainda assim, percebia que ainda havia algo que poderia coroar esta parceria.
O vôo em conjunto: trabalhar para viabilizar
Folheando, dia desses, meus livros de aviação, desenterrei o livro comemorativo das 2000 demonstrações do EDA, editado em 1993, e que me fora presenteado por um amigo que o pai era da Fumaça. Dei-lhe uma maquete do Tucano, e ele me deu o livro. E ao folhear esse livro, vi uma propaganda da Transbrasil, que havia uma foto entre um Boeing B767 (PT-TAB) e os 6 aviões da Fumaça, ainda na cor vermelha-branca.
Acreditava ali, que existia a possibilidade de realizarmos algo igual, desde que, cumprindo os trâmites entre EDA, GABAER e COMAER, bem como também, a idéia fosse considerada pertinente pela empresa. Isto ainda nem havia sido ventilado dentro dos corredores do hangar em Ribeirão Preto.
A partir daí, existiu a necessidade de elaborar melhor a idéia bruta. Mas isto se torna algo importante mais à frente. Por enquanto, detive-me em saber se a idéia era exeqüível, se existia caminho possível, e principalmente: se a Fumaça estaria disposta à fazer. Após diversas conversas, idas ao Esquadrão, e levantamento de possibilidades, sim, o EDA estaria disposto a fazer, bastando logicamente ter a autorização do Gabinete do Cmt da Aeronáutica, ao qual são subordinados operacionalmente.
Ao mesmo tempo, a Fumaça completava 59 anos, e anunciava um grande projeto para a comemoração dos 60 anos, planejada para maio de 2012. Foi lançado um logotipo comemorativo, bem como já o planejamento operacional ( convites a outros times de demonstração mundo afora, entre outras atrações). Neste momento, vi a possibilidade de fazermos uma aeronave nossa, com motivos comemorativos deste marco importante.
Rabisquei algumas coisas, em conversas com o meu irmão Samuel, que, possuindo formação acadêmica na área, poderia elaborar melhor uma idéia tosca. Confesso que tive um pensamento muito simples, que jamais poderia alcançar o brilhantismo do resultado final. Entreguei-lhe os rabiscos, expliquei-lhe o que pretendia, e que ele pudesse modificar o que não fosse interessante.
Ideia tosca #1. |
Ideia tosca #2. |
Bom, a próxima etapa era conversar com o departamento de Marketing da empresa, a saber da possibilidade de viabilização da adesivagem de uma aeronave nossa, caso todo o projeto fosse aprovado por parte do Comando da Aeronáutica. Várias reuniões foram feitas com o Rafael, e o Marcelo, do MKT da empresa, e em todas, fui incentivado a dar prosseguimento ao projeto, visto que , por parte da Passaredo, havia o interesse.
Quando meu irmão terminou o primeiro esboço, mostrei ao pessoal do MKT, e eles foram extremamente receptivos, pois na nova concepção idealizada pelo meu irmão, ele adicionou as faixas verdes, reposicionou os aviões, fontes, e o logotipo dos 60 anos, tudo isso ainda permanecendo com a identidade Passaredo. Ganhou personalidade, a nossa identidade visual.
Próxima tarefa: Ter a aprovação dos Fumaceiros. Também foram unânimes em dizer que foi uma idéia muito feliz, e que, por eles, estaria ok. Ao levar o nosso ofício ao Gabinete, buscando aprovação deste projeto, tivemos a feliz notícia de que tudo fora aprovado: Nossa aeronave poderia utilizar as marcas de aeronaves da Força Aérea, bem como efetuar o vôo em formação com o nosso Embraer145 liderando a Fumaça. Parecia incrível: a parceria se consolida.
Foi autorizado o dia 18 de setembro para o vôo, ocasião a qual o EDA faria uma demonstração na cidade de Guariba, e dentro de um critério de aproveitamento de missão, faria o vôo com uma aeronave da Passaredo, que iria homenagear a Esquadrilha.
A execução: planejamento e realização
Duas partes foram conduzidas paralelamente, nesta reta final: Uma, dava conta da aprovação final da presidência da empresa, para adesivarmos uma aeronave da frota, e outra era relativa à operacionalização da idéia do vôo em si.
A adesivagem da aeronave: Aprovada a identidade visual proposta para a aeronave, houve a necessidade de efetuar alguns pequenos ajustes, que passaram em branco. Entretanto, cabe aqui, descrever como a proposta foi elaborada, e por lado. Ao lado esquerdo da aeronave, temos 4 aviões em vôo em formatura diamante, que possui sua trajetória perfeitamente alinhada aos ventos que conduzem a Passaredo, em perfeita harmonia, demonstrando buscar a mesma excelência desenhada nas manobras da Esquadrilha.
Ao lado direito, temos uma linha do tempo, constando o perfil de todas as aeronaves já utilizadas pelo EDA, e esta idéia baseia-se no fato de que isto demonstra uma homenagem a todos aqueles que passaram pela unidade. Cada avião representa cada fumaceiro, seja piloto, mecânico, cabo, ou soldado, que integrou esta unidade, e que trabalhou com algum deles. Os outros inscritos dão conta do novo logotipo, fazendo alusão aos 60 anos, bem como o emblema da Esquadrilha, junto à bandeira do Brasil, logo abaixo da janela dos pilotos.
Adesivos a serem colocados. Tinha muito serviço pela frente... |
Dá uma olhada no horário da contenda... the time is running. |
Sendo assim, designou-se a aeronave PT-PSS, penúltima a integrar a frota da empresa, a receber as cores fumaceiras. Aguardamos o dia certo para adesiva-lo, ocasião esta marcada para a sexta feira anterior à data da apresentação da aeronave. O tempo ia ser curto, mas possível.
Inevitavelmente, eu teria de participar também, da confecção da adesivagem da aeronave, juntamente com outros dois funcionários. O tempo era muito apertado, afinal, no dia 16, a aeronave estaria no hangar durante a madrugada, e eu chegando de vôo de Porto Alegre. Foi a seguinte sequência: Aeroporto-apartamento-Drive Thru do Mc-Hangar.
Ainda escalonando o quatrilho. |
A adesivagem de uma aeronave é algo que eu nunca tinha feito. O mais próximo disso que cheguei, era fazer minhas maquetes. Mas muitos conceitos serviram. Duro era, toda hora: ajustar, afastar, subir no patamar, e ver que tava torto. Esse expediente foi repetido, tranquilamente por umas 10, 15 vezes por lado. Cansativo, mas interessante.
Do lado direito. Linha do tempo. |
Já quase pronto. |
95% pronto. Cansado, mas contente pelo resultado. |
A outra parte dizia respeito ao planejamento do vôo em si. Reuni-me por duas vezes com o Maj-Av Alexandre, oficial de operações do EDA, para discutirmos entre outras coisas, velocidades, formaturas, posicionamento, área autorizada a ser utilizada para sobrevôo, coordenação juntamente com o DTCEA-YS, TWR-RP, e outros detalhes.
Uma visita dos fumaceiros ao nosso hangar, ocorreu por volta de 1 mês antes, tendo em vista que tínhamos dúvidas, em relação ao espaço que utilizaríamos, da forma que estávamos prevendo. Pegando o bizu dos 16 passos para balizamento, fizemos o escalonamento dos aviões, e concluímos que o espaço era suficiente.
Em relação ao tráfego aéreo: Após ida ao DTCEA-YS, foi nos autorizado manter o setor E de SBRP, mantendo 5500 pés de altitude. Voltamos ao EDA, e combinamos a trajetória em vôo, bem como curvas para reunião, procedimentos de segurança, fraseologia, entre outros.
Vejam bem: do início desta idéia, até aqui, 17 de setembro de 2011, foram exatos 10 meses, muitas dúvidas, muita ajuda, muita iniciativa, muita força para que tudo desse certo.Jamais, nesse caminho todo – muito trabalhoso – encontrei alguém remando no sentido contrário.
O tão esperado dia
Tão logo a previsão do tempo confirmou céu aberto para o fim de semana, vi que um grande revés não iria ocorrer, e que a ação a se desenrolar, tinha tudo para ser um sucesso. O planejamento do setor de marketing conduzia-se de maneira impecável, coordenando toda a parte de recepção dos fumaceiros, bem como da imprensa que fora convidada.
Ao chegar no hangar da empresa, procurei já acertar os detalhes iniciais da chegada dos primeiros T-27, tais como posicionamento no pátio, e os receptivos. Às 09:30, chegam os dois primeiros Tucanos, vindos de Guaxupé-MG, um sendo conduzido pelo Maj Alexandre, e outro conduzido pelo Cap Renó, que iria para Guariba, ser o locutor da demonstração.
Logo ao chegarem, foram posicionados, e 20 min após, apontam os outros 6 Tucanos, liderados pelo Ten-Cel Esteves, comandante do EDA. Passagens sobre o hangar, pilofe para a pista 18, bips checados, e lá vem os 6 Tucanos em fila indiana. Chegaram.
Chegada dos fumaceiros. Agora tem de arranjar 7 aviões no pátio. |
Ao rever nossos colegas em casa, tentamos retribuir com a mesma fidalguia a receptividade típica daqueles que sempre fazem questão de ressaltar que você “ tá em casa”. Enquanto os pilotos descansam, os mecânicos preparam os Tucanos, e em menos de 40 minutos, estão acionados prontos para a decolagem para Guariba.
Neste intervalo de tempo, dirijo-me à TWR-RP para fazer o FPL, e após ponderações da operadora da AIS, consigo ter o plano aprovado.
Exatos 50 minutos depois, eles aparecem pelo setor SW, e puxam o “looping-leque-dispersão” característico da Fumaça. Pousam, fazem um debriefing, e todos almoçamos, já comentando a respeito do que faremos logo daqui a pouco.
Com a presença da imprensa, subimos todos ao “aquário”, sala conhecida pelas paredes de vidro, e local de reuniões importantes na empresa. Participam do briefing, os pilotos do EDA, os pilotos que iriam voar o E-145, bem como a imprensa, e amigos. São discutidos vários aspectos, e combinamos como faremos a reunião, entre o EDA e a aeronave líder, e a troca de formaturas. Uma aeronave do EDA - o Fumaça#07- levará o fotógrafo da Esquadrilha, SO Prieto, que irá registrar todos as formaturas que iremos compor.
Briefing feito, vamos todos às aeronaves. Nosso callsign será Fumaça-Passaredo, enquanto a Fumaça continua com seu callsign tradicional. Acomodo-me no assento do co-piloto, afinal, a condução do jato será feita pelo presidente Cmte Felicio, e faço os preparativos chamando a Torre, e pedindo autorização:
-Torre Ribeirão, boa tarde, é o Fumaça-Passaredo.
-Boa tarde, prossiga.
-Autorização de vôo, setor E, nível 055, vertical de Serrana.
-Afirmativo, autorizado vôo local, nível 055, mantendo a vertical de Serrana, setor E, código 4155.
Cotejo a informação, e logo após a Fumaça faz a sua autorização. Todos acionados, nossa aeronave na taxiway, e iniciamos o táxi para a pista 18. POB 50, 2h de autonomia.Vamos bem devagar, para que a Fumaça nos siga . Sigo também na frequência tática, na qual faremos a coordenação com a Fumaça. Check rádio começando pelo Fumaça #01, 02, 03, 04, 05 , 06, 07 e Passaredo!
Cumprimos os checks de rotina, briefing de decolagem, afinal não recolheremos os flaps, e o PSS é um exemplar que possui flap 18. Como voaremos com esse flap set, não haverá retração deles, e o resto do scan-flow permanece o mesmo. Outra coisa importante, é a utilização do transponder apenas em modo A, para evitar que o TCAS estranhe os T-27 tão próximos da gente.
Ao alinhar, liberamos a potência dos Rolls-Royce, e com 123kt, saímos do chão, em pitch pronunciado, que motiva um comentário fumaceiro tradicional na fonia: “Espetáculo hein”. Feitos os checks, voaremos com 180kt, velocidade considerada ideal pelos pilotos da Fumaça, para permitir uma reunião , e ter uma boa velocidade, tanto para os alas internos, quando aos externos. Atingimos 5500 pés, já em contato com o APP-YS, que nos destina aquele setor, para tranqüilidade total da operação.
Reunindo, de preferência, em curva. Foto: SO Prieto (EDA). |
3X3. Foto: SO Prieto (EDA). |
Pela direita. Foto: Christiano Pessôa. |
Por baixo. Foto: Christiano Pessôa. |
Adentra a fonia do APP a Fumaça, e ao mesmo tempo, coordenamos na tática, a nossa reunião. Inicialmente prevista uma órbita de 1min de afastamento, com proas N e S, reduzimos para 30 seg, tendo em vista que a reunião demoraria muito caso mantêssemos o tempo combinado. Sendo assim, a reunião ocorreu de uma melhor forma, e já tínhamos o EDA voando em nossa lateral direita. O mais impressionante, fora o fato de ter 7 aviões voando juntos ao seu, é poder escutar o barulho dos Tucanos, mesmo dentro da cabine com fones de ouvido.
Tá vindo... |
Coordenando com a Fumaça, lideraremos o EDA que voará em posição Delta 6 às nossas 6 horas. Fotos nessa posição, e o Ten-Cel Esteves comanda a composição de 3 aeronaves em cada ala. Nisso, a cada início de curva, eu coordenava, tal como é feito nas manobras, com a seguinte fraseologia: “Para curva à esquerda em 3, 2, 1....já”. Serve para os alas externos e internos se posicionarem com antecipação, mudando seus respectivos planos, permitindo uma manutenção mais constante da posição.
Perfeito! Foto: SO Prieto (EDA). |
Fotos feitas nessa configuração, e é impressionante: Os Tucanos voam muito perto, mas muito perto mesmo. Ver aquele avião, daquela dimensão, voando absolutamente perto de sua aeronave, é uma visão indescritível. As imagens não conseguem quantificar o tanto que é formidável um vôo nessas condições. Coordenada agora, a posição “linha de frente”, considerada uma das mais técnicas de se voar, pois as referências são completamente distintas das do vôo em ala normal. Perfeitamente, eles se posicionam, e apesar das correntes térmicas a atrapalhar, profissionalmente lá permanecem. Impressionante.
Vamos chegando... |
E virando uma esquadrilha só. |
Linha de frente show. Posição chata de voar. Notar a ausência de referência de plano lateral. Foto: Christiano Pessôa. |
Concluída esta parte, o Ten-Cel Esteves comanda o afastamento escalonado dos alas, para efetuar o giro para o dorso. O afastamento é necessário para que quem esteja na posição à frente, gire e pare na ala do avião líder. Feito sequencialmente, permite com que os alas externos venham achando sua posição correta, nessa forma bem complicada de vôo.
Vista do #6. Foto: Christiano Pessôa. |
Das poucas boas que consegui tirar. |
De fora, pelo #7. Foto: SO Prieto (EDA). |
Mais uma vez, fotos concluídas, e voltam à posição normal. É comandado o escalonamento inteiro do esquadrão, à direita da aeronave líder. Seguindo a sequência dos números, de 1 a 6, fica bacana a chegada deles, e sua movimentação muito se parece com uma onda, pois nesta técnica de vôo, repete-se o movimento do avião que está à sua frente. Obviamente, alguns amortecem esse efeito, mas ainda assim, o efeito onda permanece....está muito calor.
Escalonado à direita. Foto: SO Prieto (EDA). |
Escalonado à esquerda com fotos, e depois à direita com as respectivas fotos, damos essa parte por encerrado, e o Ten-Cel Esteves comanda o EDA para o reescalonamento tradicional, com 3 aeronaves em cada ala. Importante ressaltar que, a coordenação rádio a todo momento era fundamental, pois como o jato voa por atitude, por mais que cravássemos a velocidade em 180kt, voar a 5500 pés, às 15h30, fazia com que variações de +5kt e – 5kt, atrapalhassem um pouco os fumaceiros. Entretanto conseguimos cumprir as respectivas velocidades.
E o #7, escalonando por baixo. Foto: SO Prieto (EDA). |
Entro em contato com o APP-YS, no COMM1, travando o seguinte diálogo:
-Fumaça-Passaredo: Controle Academia, o Fumaça-Passaredo encerrou o vôo previsto , e solicita coordenação para passagens sobre o aeródromo de Ribeirão Preto, com a Fumaça em 6 aviões na ala.
-APP-YS: Afirmativo Fumaça-Passaredo, voe proa Sul, e efetuaremos coordenação com a torre.
Enquanto isso, conversamos na freqüência tática, e realmente seguro a emoção para não deixar o profissionalismo de lado. O nosso papo rádio, enquanto aguardávamos, foi entermeado de elogios dos fumaceiros, ao design do nosso avião, exaltando fumaceiros do passado de um lado, e do outro porque não? Já que a Fumaça começou com 4 aviões em diamante...
O APP nos chama:
- APP-YS: Fumaça-Passaredo, está autorizada a passagem no sentido E-W, chame Torre Ribeirão em 118.00.
-Fumaça-Passaredo: Okapa senhor, reaproa Ribeirão Preto, chamando Torre em 118.00. Agradece pela colaboração e contribuição para o sucesso dessa missão. Boa tarde!
Curvamos à direita, descendo de 5500 pés para altitude inferior, sempre bem coordenado com os alas. Todas as curvas tem de ser feitas com razão de rolamento bem modesta, tendo em vista que a mudança de plano dos alas externos, tranquilamente supera os 5 metros. Manetes reduzidas pro jato não exceder a velocidade, e lá vamos nós na proa do hangar.
-Fumaça-Passaredo: Torre Ribeirão, é o Fumaça-Passaredo!
-TWR-RP: Prossiga Fumaça-Passaredo!
-Fumaça-Passaredo: Para passagem, sentido E-W, mantendo 180kt, com 6 T-27 nas alas.
-TWR-RP: Afirmativo. Autorizada passagem no sentido E-W, reporte ingressando na perna do vento pista 36, setor W.
-Fumaça-Passaredo: Positivo! Solicita por gentileza, observar caso exista, a presença de pássaros em nossa trajetória, ok?
-TWR-RP: Afirmativo.
Para a passagem, sentido E-W. Foto: Christiano Pessôa. |
Neste momento, é me dado a oportunidade , pelo Ten-Cel Esteves, de comandar o tradicional código de chamada do Esquadrão, ou seja:
-Thiagão, ta contigo, comanda e descomanda, ok?
-Ok Coronel, então com a sua licença.......Fumaçaaa.....Já!
Fumaça, JÁ! Foto: SO Prieto (EDA). |
Os 6 T-27 largam o tradicional trilho de Fumaça, marcando num horizonte já próximo a presença dessa formatura 100% Brasileira. O hangar vem se aproximando, e neste momento, todos os alertas possíveis e impossíveis do Embraer145 são exibidos. Vamos cancelando o que for possível, mas não eliminando-os, pelo simples motivo de mantermos a consciência situacional num nível elevado.
-Fumaça fora, Já!
Passamos os hangares, e entramos na perna do vento pelo setor W do SBRP, sobrevoando essa cidade fantástica que é Ribeirão Preto. Céu absolutamente azul, 7 aeronaves voando em perfeita formatura e coordenadas....arrisco a dizer que é meu ponto alto da minha modesta carreira de aviador, e que dificilmente será superposto.
Avaliada uma distância interessante, iniciamos a curva à esquerda para reinterceptar o eixo de aproximação da RWY36, no que notificamos á TWR:
-Fumaça-Passaredo: Torre Ribeirão, é o Fumaça-Passaredo para passagem sentido 36-18.
-TWR-RP: Positivo, autorizada passagem, vento é calmo, confirme intenções após.
-Fumaça-Passaredo: A intenção será de efetuar curva pela direita para nova passagem sentido E-W e dispersão, com pouso pela 36.
-TWR-RP: Afirmativo, reporte para nova passagem, sentido E-W.
Alinhamos 5nm antes da pista, e ao observar alguns pássaros no prolongamento, aviso aos respectivos alas, e eles rapidamente livram o “obstáculo” e voltam à ala. Nesse momento, a avenida Thomaz Alberto Whately (aquela que passa na cabeceira da pista 36) está completamente lotada de carros, e pessoas espocando flashes. Caramba!!!
Rasante sobre o SBRP. Foto: SO Prieto (EDA). |
Passaredo 01 e seus alas. |
Descemos um pouco mais baixo, afinal, agora estamos sobre a pista. Mas não muito, pois os #5 e #6 estão bem abaixo do nosso plano. Lá vamos nós, 180kt, formação bem fechada, fumaça fora, e curvamos ascendente à direita.Deve ter ficado muito bacana. Nesse momento, contato com a TWR:
Curvando à direita, para última passagem. |
-Fumaça-Passaredo: Torre Ribeirão, Fumaça-Passaredo, para passagem final, sentido E-W.
- TWR-RP: Ok Passaredo, autorizada passagem, reporte para perna do vento, setor W, pista 36
Enquadramos novamente o segmento E-W, e repetimos a passagem com o mesmo profissionalismo, e zelando pela separação vertical, pois os alas #5 e #6 ficam num plano bem inferior ao nosso, e eles basicamente voam olhando os #3 e #4, sem muito tempo para verificar a trajetória e obstáculos. Sendo assim, passamos de modo a evitar obstáculos. Esta última passagem é feita sem fumaça, tendo em vista que... acabou o óleo no reservatório!
Rasante over headquarters. Foto: SO Prieto (EDA). |
A partir de agora, comanda-se a dispersão, em que chamamos como Passaredo 01, e a Fumaça volta ao código original. Entramos na perna do vento da 36, conforme combinado, gear down, flaps 22 e before landing checklist!
-Torre Ribeirão, é o Passaredo 01, perna base, pista 36, pela esquerda.
-Passaredo 01, autorizado pouso, vento calmo, pista 36.
-Autorizado o pouso ao Passaredo 01, na pista 36.
Viemos para os últimos instantes desse vôo fantástico, que infelizmente está terminando. VRef de 122kt, e o cmte Felício faz mais um pouso daqueles! Aplausos chegam da cabine de passageiros, e livramos pela taxiway C. Agora, aguardaremos no pátio 2, a chegada do EDA, que nesse momento, já chega despencando para looping-leque-dispersão.
They are the sultans! Foto: Christiano Pessôa. |
A vista do #7. |
Os T-27 mergulham, em formatura Delta, até 220kt, liderados pelo Ten-Cel Esteves, que puxa 3, 5G na entrada do looping. Contínua pressão no manche para trás, dois toquinhos no compensador, e vamos ao alto na proa do céu azul, como azul é a cor das aves. Motor a pleno, menos o #1. Topo do looping, todo mundo se arranja, os alas externos dão uma cortada na trajetória do looping, quando o nariz está embaixo, pra não “ficar pra trás”. Nariz embaixo, cobrinha-show: #2 e #3 escalonam-se ao mesmo tempo, enquanto o #4 bota o nariz mais embaixo, livrando espaço para eles na devida posição. Enquanto isso, o mesmo processo acontece envolvendo os #5, #6 e #7. Nivelados, já estão prontos para a immelmann que vai lhes colocar perfeitamente na perna do vento da 36. 3G na entrada, 130kt no topo, desvira, trem embaixo, flap em pouso, e faróis ligados.
Cobrinha, já! Foto: Christiano Pessôa. |
Sincronizadamente, pousam, e o táxi é feito na sequência inversa, sendo que o #7 ingressa primeiro, e o #1 por último. Chegamos atrás do #1, como forma de agradecer ao esquadrão, a visita em casa. Ingressamos pela taxiway auxiliar até o nosso hangar. Nesse momento, os mecas conseguem rearranjar os Tucanos e termos espaço suficiente para colocar o nosso jato entre os tucanos empoleirados. Parking Brake aplicado, calços , e shutdown!
Como #8, cedendo a entrada de casa para os amigos. |
Agora sim, checklists para terminar, e infelizmente o vôo terminou. Termina fisicamente, porque, como essas coisas são eternas, voarei várias vezes este mesmo vôo, repetindo quantas vezes forem necessárias. Descem os passageiros, agradecendo-nos pelo vôo, e aproveito o momento para agradecer ao Cmte Felício pela confiança em poder colocar o projeto em prática.
Em solo, muitos abraços com os colegas da Fumaça, pois a missão terminou, foi cumprida, e coroada de êxito, tanto institucional, quanto operacional. Fotos, para a posteridade, e vamos para um debriefing molhado, no linguajar do EDA. Crachás e tarjetas de dorso, e estamos oficialmente liberados.
Acredito que, tudo o que precisava ser dito, eu tentei dizer, para trazê-los a bordo dessa missão. Fizemos uma grande homenagem ao esquadrão, inédita até. Jamais uma companhia aérea havia homenageado a esquadrilha com um esquema especial de pintura, e isso ainda acredito que foi pouco, perto do que nos foi proporcionado.
Já diz a música: A esquadrilha é um punhado de amigos! Foto: Christiano Pessôa. |
Particularmente, fiquei muito feliz, tendo em vista que foi uma idéia que amadureceu, contou com a confiança , desde o alto –comando da Força Aérea, passando pelo EDA, até a Passaredo, e se materializou para sempre.
Espero que todos tenham gostado desse relato, e aqueles que vieram até Ribeirão Preto, que tenham se sentido bem, desde a recepção, passando pelo atendimento, o vôo em si, e a atenção dispensada.
Grande abraço a todos.
PS: Meus sinceros agradecimentos à
-Esquadrilha da Fumaça, pela confiança no projeto, e pela amizade;
-Força Aérea Brasileira, por acreditar numa iniciativa autêntica, desprovida de oportunismo, e que visava única e exclusivamente o engrandecimento da FAB;
-Passaredo Linhas Aéreas, por dar cartão verde a um funcionário que tocou um projeto adiante, e que teve todo o apoio necessário para viabilizar a idéia;
-Aos colegas da empresa, que sempre deram força, e jamais viram nisso uma forma de autopromoção;
-Aos colegas da imprensa, que deram ampla divulgação ao ocorrido, e que nos ajudaram na tarefa de veicular a imagem do esquadrão e da Força Aérea.
Nota de Falecimento: Fábio Donizeti DÁVILA
- Detalhes
É com pesar que o Esquadrão de Demonstração Aérea (EDA) comunica o falecimento do amigo e companheiro, Fábio Donizeti DÁVILA, ocorrido ontem, dia 26 de Janeiro.
O sepultamento ocorreu hoje às 11h00 na sua cidade natal, Sta. Cruz da Palmeiras/SP.
A Esquadrilha da Fumaça se solidariza com os familiares deste grande amigo e Anjo da Guarda exemplar.
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