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“SORRISOS SAUDÁVEIS & CORAÇÕES SAUDÁVEIS”

A importante conexão entre saúde bucal e saúde cardíaca.

As doenças orais, embora em grande parte evitáveis, representam um fardo pesado para a saúde de muitos países e afetam as pessoas ao longo da vida, causando dor, desconforto, desfiguração e até morte. Estima-se que essas doenças afetem cerca de 3,5 bilhões de pessoas. (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2023).

A cárie dentária não tratada nos dentes permanentes é a condição de saúde mais comum de acordo com o “Global Burden of Disease”, de 2019. O tratamento para problemas de saúde oral é caro e geralmente não faz parte da cobertura universal de saúde. A maioria dos países não dispõe de serviços suficientes para prevenir e tratar problemas de saúde oral. As doenças orais são causadas por uma série de fatores de risco modificáveis, comuns a muitas doenças não transmissíveis (DNT), incluindo o consumo de açúcar, tabaco e de álcool e a falta de higiene, e os seus determinantes sociais e comerciais subjacentes. (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2023)

Existem mais de 405.000 cirurgiões-dentistas no Brasil e 44,4% dos brasileiros consultam um cirurgião-dentista, pelo menos uma vez, a cada ano. (CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA, 2024)

Os cirurgiões-dentistas são profissionais importantes no aconselhamento e rastreamento de pacientes portadores de muitas doenças crônicas, incluindo hipertensão arterial e câncer oral, sendo o acompanhamento com esse profissional uma oportunidade valiosa para impulsionar a prevenção e a detecção precoce dessas doenças a partir do ambiente ambulatorial odontológico e do controle da saúde oral. (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2024)

A remoção de barreiras aos cuidados de saúde de qualidade é fundamental para reduzir o fardo das doenças cardiovasculares, a principal causa de morte nos Estados Unidos e em boa parte do mundo. A iniciativa “Sorrisos Saudáveis, Corações Saudáveis” ​​da Associação Americana de Cardiologia concentra-se em: envolver profissionais de saúde bucal para criar um novo padrão de atendimento para exames de saúde cardíaca no consultório odontológico, com foco em exames de pressão arterial e encaminhamento para cuidados médicos primários; educar profissionais e pacientes sobre a ligação entre a saúde cardíaca e a saúde bucal; e, enfatizar a importância de uma equipe de atendimento integrada ao paciente na melhoria da saúde e do bem-estar geral. (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2024)

A Associação Americana de Cardiologia sugere, em sua página oficial, que as pessoas tomem as seguintes atitudes:

  • - Escove os dentes pelo menos duas vezes ao dia e use fio dental pelo menos uma vez ao dia para remover bactérias formadoras de placa bacteriana;
  • - Faça uma dieta saudável, rica em nutrientes essenciais, para reduzir a ingestão de carboidratos refinados, como açúcares adicionados e grãos processados;
  • - Evite a inalação recreativa de fumaça, como cigarros, vaping ou narguilé, pois podem afetar as gengivas e aumentar o risco de doenças cardíacas;
  • - Converse com seu cirurgião-dentista sobre recomendações de consultas de saúde bucal para atendimento individualizado;
  • - Converse com seu cirurgião-dentista e com o seu médico sobre a conexão entre a saúde bucal e a saúde do seu corpo;
  • - Compartilhe com seu cirurgião-dentista o seu histórico médico, condições atuais, medicamentos que faz uso e quaisquer mudanças recentes de comportamento nas rotinas de cuidados de saúde bucal ou sintomas de saúde bucal recentemente desenvolvidos.
  • - Tome seus medicamentos conforme prescrito e discuta os efeitos colaterais de quaisquer medicamentos, vendidos sem receita ou prescritos, com sua equipe integrada de saúde. (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2024)

A saúde bucal de um paciente pode ser um indicador da saúde geral e do bem-estar. Quando os dentes e as gengivas apresentam inflamação, as bactérias podem viajar pela corrente sanguínea para o resto do corpo, incluindo o coração e o cérebro. A inflamação crônica da gengiva pode estar associada a outras doenças crônicas, incluindo doença arterial coronariana, acidente vascular cerebral e diabetes. Além disso, estudos demonstraram que a doença periodontal, que afeta dois em cada cinco adultos, pode causar um aumento de 19% no risco de doenças cardiovasculares. Esse risco aumenta para 44% em pacientes com 65 anos ou mais. (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2024)

O estado de saúde bucal deficiente é comum entre pacientes hospitalizados, em especial, nos de idade mais avançada. Mais de 90% dos pacientes em cuidados intensivos nos hospitais apresentam problemas de saúde bucal. (HANNE K. et al, 2012) Em particular, os pacientes com doenças cardiovasculares (DCV) têm uma alta prevalência de mau estado de saúde bucal devido a comorbidades associadas à doença periodontal. (SANCHEZ P. et al, 2019) Além disso, a cirurgia cardiovascular promove ainda mais dificuldade à manutenção do estado de saúde bucal devido à intubação endotraqueal perioperatória prolongada. (RASSAMEEHIRAN S. et al, 2015; CHEN C.C. et al, 2018)

Recentemente, a diminuição da função oral tem sido referida como “fragilidade oral”. (MINAKUCHI S. et al, 2018) A fragilidade oral é definida como uma série de fenômenos e processos que levam a alterações em diversas condições orais associadas ao envelhecimento, o que é acompanhado por uma diminuição do interesse pela saúde oral. (MINAKUCHI S. et al, 2018) O aumento da fragilidade oral leva à deterioração da função física e mental e ao desenvolvimento de fragilidade física. (MINAKUCHI S. et al, 2018) Como a fragilidade oral pode levar à progressão da fragilidade através de desnutrição ou inflamação crónica, são necessárias contramedidas detalhadas. (RAPP L. et al, 2017) A fragilidade oral pode ser revertida por várias intervenções de acordo com cada caso e nível de fragilidade. Assim, a consciência da fragilidade oral pode prevenir a progressão da fragilidade e quebrar o ciclo vicioso que conduz a um maior aumento dessa condição.

Além disso, a fragilidade pré-operatória em pacientes de cirurgia cardiovascular é um conhecido preditor independente de mortalidade ou morbidade grave e diminuição da recuperação funcional no ambiente de reabilitação. (LIN H.S. et al, 2016; YUGUCHI S. et al, 2019; OGAWA M. et al, 2019) Recomenda-se intervenção da equipe de odontologia e estratégias pré-operatórias ideais para tal intervenção; entretanto, o efeito do estado de saúde bucal nos resultados pós-operatórios em pacientes de cirurgia cardiovascular raramente é considerado. (AKASHI M. et al, 2019) É importante ressaltar que a recuperação funcional pós-operatória ou a atividade da vida diária (AVD) é de importância crucial porque a recuperação funcional inadequada ou AVD na alta prediz eventos cardíacos adversos ao longo do tempo. no ano seguinte. (OGAWA M. et al, 2017; TAKAHASHI T. et al, 2015) 

O estado de saúde bucal deteriora-se em pacientes com perda dentária. A incidência de pneumonia pós-operatória é maior em pacientes com perda dentária grave. Além disso, o estado de saúde bucal pré-operatório é associado à recuperação funcional. (OGAWA M. et al, 2017)

Kumar A. e Rai A. descobriram que os pacientes com doenças cardíacas apresentavam problemas de saúde bucal. Portanto, o valor dos protocolos direcionados de educação em saúde bucal deve ser enfatizado. Há necessidade de esforços intensivos dos cirurgiões-dentistas em destacar a necessidade de atendimento odontológico regular para pacientes com risco de doenças cardíacas. A chave para a prevenção de doenças orais é o cuidado diário consistente em casa para manter uma boa higiene oral, em combinação com cuidados dentários regulares prestados pelo cirurgião-dentista. Os autores também destacam a importância de uma melhor interação entre todos os profissionais de saúde para integrar a saúde oral como parte dos cuidados de saúde hospitalares abrangentes. (KUMAR A, RAI A, 2018)

Uma abordagem realizada por equipe multidisciplinar é superior ao tratamento padrão em pacientes de cirurgia cardíaca para reduzir o risco de readmissão hospitalar. OGAWA M. et al, 2019.

Dessa forma, a Divisão Odontológica do HFAG (DOD/HFAG) e os Serviços de Cardiologia, Hemodinâmica, Cirurgia Cardíaca e Cirurgia Vascular do HFAG, alinhados à iniciativa da American Heart Association – “Sorrisos Saudáveis – Corações Saudáveis” vêm trabalhando juntos evidenciando aos pacientes, em especial a portadores de Doenças Cardiovasculares, a importância de avaliar e cuidar da saúde bucal antes, durante e após o seu tratamento médico ambulatorial, especialmente antes de cirurgias cardiovasculares, visando, a partir da interação multidisciplinar, a manter excelentes resultados pós-operatórios. 

Referências Bibliográficas: 

  1. AKASHI M., NANBA N., KUSUMOTO J., KOMORI T. Perioperative intervention by oral medicine team in cardiovascular surgery patients. Gen Thorac Cardiovasc Surg. 2019;67:197–202.
  2. AMERICAN HEART ASSOCIATION – AHA. https://www.heart.org/en/health-topics/oral-health; Acessado em 14 de fevereiro de 2024
  3. CHEN C.C., WU K.H., KU S.C. Bedside screen for oral cavity structure, salivary flow, and vocal production over the 14 days following endotracheal extubation. J Crit Care. 2018;45:1–6.
  4. CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA - CFO. https://website.cfo.org.br/estatisticas/quantidade-geral-de-entidades-e-profissionais-ativos/;Acessado em 14 de Fevereiro de 2024. 
  5. CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA - CFO. https://website.cfo.org.br/pesquisa-do-ibge-mostra-que-oferta-a-populacao-ainda-e-pequena-diante-da-demanda/Acessado em 14 de Fevereiro de 2024
  6. HANNE K., INGELISE T., LINDA C., ULRICH P.P. Oral status and the need for oral health care among patients hospitalised with acute medical conditions. J Clin Nurs. 2012;21:2851–2859.
  7. KUMAR A, RAI A. Oral Health Status, Health Behaviour and Treatment Needs of Patients Undergoing Cardiovascular Surgery. Braz J Cardiovasc Surg. 2018 Mar-Apr;33(2):151-154.
  8. LIN H.S., WATTS J.N., PEEL N.M., Hubbard R.E. Frailty and postoperative outcomes in older surgical patients: a systematic review. BMC Geriatr. 2016;16:157
  9. MINAKUCHI S., TSUGA K., IKEBE K. Oral hypofunction in the older population: Position paper of the Japanese Society of Gerodontology in 2016. 2018;35:317–324.
  10. OGAWA M., IZAWA K.P., SATOMI-KOBAYASHI S. Poor preoperative nutritional status is an important predictor of the retardation of rehabilitation after cardiac surgery in elderly cardiac patients. Aging Clin Exp Res. 2017;29:283–290.
  11. OGAWA M., IZAWA K.P., SATOMI-KOBAYASHI S. Impact of delirium on postoperative frailty and long term cardiovascular events after cardiac surgery. PLoS One. 2017;12
  12. OGAWA M., SATOMI-KOBAYASHI S., YOSHIDA N. Effects of acute-phase multidisciplinary rehabilitation on unplanned readmissions after cardiac surgery [e-pub ahead of print]. J Thorac Cardiovasc Surg. https://doi.org/10.1016/j.jtcvs.2019.11.069,  acessado em 14 de Fevereiro de 2024.
  1. RAPP L., SOURDET S., VELLAS B., LACOSTE-FERRÉ M.H. Oral health and the frail elderly. J Frailty Aging. 2017;6:154–160.
  2. RASSAMEEHIRAN S., KLOMJIT S., MANKONGPAISARNRUNG C., RAKVIT A. Postextubation dysphagia. Proc (Bayl Univ Med Cent) 2015;28:18–20. 
  3. SANCHEZ P., EVERETT B., SALAMONSON Y. The oral health status, behaviours and knowledge of patients with cardiovascular disease in Sydney Australia: a cross-sectional survey. BMC Oral Health. 2019;19:12.
  4. TAKAHASHI T., KUMAMARU M., JENKINS S. In-patient step count predicts re-hospitalization after cardiac surgery. J Cardiol. 2015;66:286–291.
  5. WORLD HEALTH ORGANIZATION. https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/oral-health; Acessado em 14 de fevereiro de 2024.
  6. YUGUCHI S., SAITOH M., OURA K. Impact of preoperative frailty on regaining walking ability in patients after cardiac surgery: multicenter cohort study in Japan. Arch Gerontol Geriatr. 2019;83:204–210. 
Fonte: Marcelo Rolla de Souza - Ten Cel QODENT ENT
Chefe da Divisão Odontológica do HFAG
Revisão: Maj Méd Carla Amaral, Assistente de Direção do HFAG
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