A história do Campo de Provas Brigadeiro Velloso, ou CPBV, confunde-se com a própria história da Força Aérea Brasileira.
Após o término da Segunda Guerra Mundial, havia no mercado uma oferta muito grande de aeronaves de transporte que estavam em operação naquele conflito. Assim, várias empresas aéreas brasileiras adquiriram esses aviões dos Estados Unidos e começaram a integrar o país de Norte a Sul. Essa integração deu-se primeiramente pelo litoral, devido aos diversos campos de pouso existentes ao longo da costa brasileira. Nas décadas de 50 e 60, o Brasil possuía em torno de 16 cias aéreas e o segundo maior movimento aéreo do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos.
No entanto, havia dificuldades de se voar pelo interior do Brasil devido a ausência de pistas e locais de apoio. Para chegar a Manaus, partindo do Rio de Janeiro, a única alternativa possível era "pingar" por toda a costa litorânea até Belém, pernoitar naquela localidade e, de lá, seguindo o Rio Amazonas, chegar finalmente a Manaus.
Assim, por conta de incentivos internacionais e da necessidade de se chegar a Manaus pelo interior do Brasil, foi determinado pela então Diretoria de Rotas Aéreas, a busca de novos locais de pouso no interior do nosso país.
E assim foi feito!
Em 3 de setembro de 1950, duas aeronaves pousaram em uma clareira arenosa na Serra do Cachimbo, dando início à nossa história.
A primeira delas, um Nordwind, da FAB, de matrícula 2805, tinha como tripulantes, o Major Aviador Leal Netto e o Segundo Tenente Aviador João Carlos e como passageiros o sertanista Leonardo Villas-Bôas e o mateiro "Raimundão".
A segunda aeronave, um Fairchild de prefixo PP-FBC, de propriedade da Fundação Brasil-Central, era pilotada pelo comandante Olavo Cavalcanti, tendo como passageiros os irmãos Cláudio e Orlando Villas-Bôas.
A partir deste local, foram iniciadas as obras do campo de pouso, que foi inaugurado oficialmente em 20 de janeiro de 1954.
Participaram da inauguração o Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Dr. Getúlio Vargas, o Ministro da Aeronáutica, Brigadeiro-do-Ar Nero Moura, o Presidente da Loyd Aéreo, Coronel Aviador da R/R, Marcílio Gibson Jacques e diversas outras autoridades e convidados.
O Brigadeiro Nero Moura, então Ministro da Aeronáutica, descreveu a chegada em Cachimbo da seguinte forma*:
"Ah, Cachimbo era uma coisa... A serra, que faz parte de um maciço no Sul do Pará, tem uma superfície horizontal grande e uma vegetação rala, que permite aterrar com aviões pequenos. Os primeiros homens que chegaram para construir o aeroporto fizeram uma pista de terra comprida, recoberta com basalto, aproveitando a resistência da rocha, mais ou menos plana, ou que conseguiram aplainar, para os aviões aterrarem. Aterraram cerca de 20 aviões, pois a comitiva era grande. Até o Chateaubriand participou desta viagem. Não me lembro se houve um churrasco, acho que sim... Além do nosso destacamento da Força Aérea, habitavam a região muitos índios, já aculturados, e que foram convidados para que o presidente fizesse contato com os povos da floresta amazônica. Getúlio ficou absolutamente encantado com a região. Foi uma das grandes viagens que ele fez. Jamais tinha ido até aquelas paragens, que ninguém conhecia, só os irmãos Villas-Bôas, o pessoal da FAB e os índios. Olhando o mapa, pode-se ver que Cachimbo ocupa o centro-sul do estado do Pará. O Mato Grosso fica cerca de 80 quilômetros ao sul. É perto do Amazonas, uma área completamente desabitada, a não ser por índios mansos, que conviviam com o pessoal do destacamento e demonstravam muita curiosidade pelo avião."
*Trecho do depoimento do Brigadeiro Nero Moura no Livro “Um Voo na História”, publicado pela Fundação Getúlio Vargas.
Naquela época, o destacamento possuía as seguintes instalações:
-Uma pequena central hidrelétrica com capacidade de geração de 37,5 KVA, a primeira instalada na Amazônia. Preservada até hoje pelo CPBV como patrimônio histórico da FAB;
-Rancho (refeitório) com capacidade para quarenta pessoas;
-Alojamento de trânsito com três apartamentos e capacidade para quatorze pessoas;
-Alojamento de Cabos, Soldados e Taifeiros, com capacidade para vinte pessoas;
-Três casas para Suboficiais e Sargentos do efetivo;
-Serraria, carpintaria e curral;
-Depósito de combustível e lubrificantes, com sistema de bombeamento para abastecimento de combustível de aviação;
-Estação de comunicações, com a sala da chefia;
-Campo de antenas, rádio farol e estação meteorológica;
-Prédio da casa de força e dos transmissores; e
-Pista de pouso em substrato natural de arenito, com 1700m de extensão.
Primeira Usina hidrelétrica instalada na Amazônia. Ao fundo Rio Braço Norte / Foto: Laura Assad
Á esquerda: pouso de aeronave na região • Á direita: Irmãos Villas-Boas no Posto Avançado da Serra do Cachimbo/Fotos: Arquivo FGV
No decorrer das décadas seguintes, o crescimento urbano do país envolveu diversas instalações das Forças Armadas, tais como Bases Aéreas, estandes de tiro, áreas de treinamento, paióis e outras instalações.
A partir de 1977, a necessidade de assegurar uma grande área onde as Forças Armadas pudessem atuar, treinar sem interferir nas vizinhanças, exigiu do então Estado-Maior das Forças Armadas - EMFA - a realização de estudos visando essa definição.
Na elaboração deste estudo, participaram representantes das três Forças singulares que forneceram e apreciaram requisitos necessários em um campo de provas daquela magnitude.
Assim, diante desta constatação o EMFA determinou que se fizessem estudos no sentido da definição de uma área para desenvolvimento de ensaios de armamentos, artefatos bélicos, experimentos, testes, treinamentos e manobras de interesse das Forças Armadas, os quais culminaram no Decreto nº 83.240, de 07 de março de 1979, destinando, para o fim pretendido, as glebas de Cachimbo, Gorotire e Curuaés, situadas no sul do Pará.
Como na gleba Cachimbo já existiam instalações militares do Ministério da Aeronáutica, coube a este a responsabilidade pela administração da área, até que o EMFA tomasse as providências necessárias à implantação do Campo de Provas.
Em 18 de agosto de 1979, com a presença do então Presidente Ernesto Geisel, foi inaugurado o novo aeroporto de Cachimbo, com pista de pouso de asfalto, com 2.602 metros de comprimento por 45 metros de largura, obra executada pela Comissão de Aeroportos da Região Amazônica - COMARA.
Reservada a área para o Campo de Provas das Forças Armadas, ainda na década de 70, o Estado-Maior da Aeronáutica - EMAER - apresentou ao EMFA estudos concluídos no Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento - DEPED - no sentido da criação do Centro de Ensaios de Armamentos e de Treinamento de Cachimbo.
Em 07 de março de 1983 era criado, através da Portaria nº C-016/GM3, o CAMP - Campo de Provas de Cachimbo, subordinado ao CTA - Centro Tecnológico e Aeroespacial.
Paralelamente, para implantação do CAMP, foi também criado através da Portaria nº C-024/GM3, de 06 de abril de 1983, o Grupo Executivo para Implantação do Campo de Provas de Cachimbo - GEICAMP, à época também subordinado ao CTA. Nesta data é comemorado o aniversário do CPBV até os dias de hoje.
Posteriormente, através da Portaria nº 144/GM3, de 07 de março de 1986, o Campo de Provas de Cachimbo passa à subordinação direta do DEPED, ficando a Presidência do GEICAMP com o Diretor-Geral do DEPED.
Em 17 de janeiro de 1995, foi alterada a denominação do Campo de Provas do Cachimbo para Campo de Provas Brigadeiro-do-Ar Haroldo Coimbra Velloso, em homenagem ao pioneiro da implantação da infraestrutura aeronáutica em Cachimbo.
Por fim, através da Portaria nº 510/GM3, de 30 de julho de 1997, foi extinto o GEICAMP e pela Portaria 511/GM3, da mesma data, teve o Campo de Provas sua denominação alterada para a atual CPBV - Campo de Provas Brigadeiro Velloso.
Ainda em 1997, o Decreto Presidencial, de 19 de agosto, redefine a área de terra reservada ao Campo de Provas das Forças Armadas, subordinado diretamente ao Ministério da Aeronáutica, para um total de 2.158.842,5198 hectares, na região sul do Estado do Pará.
No dia 29 de setembro de 2006, por volta das 17 h e 30 min, ocorre o maior acidente aéreo da Aviação Brasileira, a queda do Boeing da GOL, o voo 1907, com 154 passageiros a bordo, não havendo nenhum sobrevivente. A aeronave caiu a cerca de 150 km do Campo de Provas, em uma região de mata fechada na cidade de Peixoto de Azevedo, especificamente na fazenda Jarinã. A Base da Operação de resgate foi montada na Área Operacional do Campo de Provas, envolvendo aproximadamente 500 militares da Força Aérea e do Exercito Brasileiro, além de cinco integrantes do Instituto Médico Legal de Brasília, e diversas aeronaves para auxílio nas buscas e transporte das tropas de resgate. A operação se estendeu por mais de 30 dias, representando a maior operação de resgate já realizada em território nacional e exigindo uma grande estrutura de apoio logístico.
Em 1º de janeiro de 2007, o CPBV deixa de estar subordinado Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA), passando a subordinar-se ao Sexto Comando Aéreo Regional (VI COMAR), nos termos da Portaria nº 925/GC3, de 25 de setembro de 2006.
O Campo de Provas cresce como Organização Militar dedicada ao apoio administrativo e operacional necessários à execução de ensaios, testes, experimentos e treinamentos táticos quando, em abril de 2010, o Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro-do-Ar Juniti Saito, inaugura o Pátio 2, o Esquadrão Hóspede e o Hangar Fortaleza, infraestruturas que sedimentariam a vocação do Campo de Provas na missão de apoiar os Esquadrões Aéreos e Unidades Operacionais em seus exercícios técnicos e operacionais, contribuindo diretamente para o preparo da Força Aérea Brasileira.
A partir de 2017, em conformidade com as alterações decorrentes do Plano de Reestruturação da Força Aérea Brasileira e a desativação dos Comandos Aéreos Regionais, o CPBV passa a estar subordinado diretamente ao Comando de Preparo (COMPREP) até que, em 2021, na fase de Aprimoramento da Reestruturação do COMAER, o Campo de Provas volta a integrar o grupo de Organizações Militares subordinadas ao VI COMAR, reativado em 28 de janeiro.
Em 2018 o CPBV é homenageado pelo Superior Tribunal Militar com a Ordem do Mérito Judiciário Militar (OMJM), aprovada pelo Decreto nº 43.195 de 20 de fevereiro de 1958, que se a destina agraciar integrantes da Justiça Militar da União, instituições e personalidades civis e militares, brasileiras e estrangeiras, que tenham se destacado no desempenho de suas atribuições ou demonstrado excepcional apreço à Justiça Militar da União, tornando-se credoras desta homenagem.
Entre as mais expressivas operações registradas na Área de Exercícios do CPBV está a realização da operação Verde Brasil, em 2019, quando a Força Aérea Brasileira, Exército Brasileiro, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), com o apoio de aeronaves modelo AT 802, do acervo da Corporação Nacional Florestal do Chile, e de militares dos Corpos de Bombeiros dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná integram o esforço conjunto coordenado pelo Ministério da Defesa no combate a ilícitos ambientais e incêndios florestais que atingiam a região Amazônica.
No conjunto de ações de reestruturação e atendendo ao disposto na DCA 11-61, nos termos da Portaria nº 238/GC3, de 8 de fevereiro de 2022, a sede administrativa do Campo de Provas Brigadeiro Velloso foi alterada de Brasília - DF para Guarantã do Norte - MT. O esforço para a execução do cronograma de mudança de sede envolveu todo o efetivo e o emprego de meios aéreos e terrestres para que o acervo da OM fosse transportado para Cachimbo e, no dia 26 de janeiro de 2021, o Diretor do CPBV, Tenente-Coronel Aviador Leonardo dos Passos de Araújo, e o Vice-Diretor do CPBV, Major Aviador Alexandre Ribeiro Lomonte, apresentaram-se no Campo de Provas Brigadeiro Velloso, localizado na Serra do Cachimbo, município de Novo Progresso-PA, como militares do efetivo da nova sede, prontos para o serviço.